segunda-feira, 27 de março de 2023

LEMBRANDO MEUS PAIS

 

Tem gente que não cultiva na memória aqueles que não estão mais "ocupando seus antigos espaços" do nosso lado aqui na terra, mas para mim, cada dia gera mais lembranças, principalmente de minha avó e dos meus pais.
Como por exemplo meu pai, que, de manhã, fazia bem assim: pelas 4 horas, as vacas já deviam estar no mangueirão para serem ordenhadas por ele. 
O trabalho de buscá-las no pasto era nosso, quero dizer, de minha mãe Maria Olímpia e das meninas maiores.
Feito isso, o leite era trazido para dentro da casa principal onde os litros eram cheios para serem levados aos fregueses da cidade.
Quem levava?
Havia dois funcionários: o Leonildo e o Nestor que se revezavam nesse mister.
Trabalho acabado, meu pai sentava-se à mesa da sala, onde ouvia as últimas notícias radiofônicas do dia transmitidas pela Rádio Bandeirantes e se servia de um grande copo de café com leite fervendo; o leite era gordo e a nata tão consistente que até me dava lombriga - mas eu odiava nata no café!
Todos os dias eram iguais.
Pelo menos de manhã.
Lá pelas oito e meia, já estava o chimarrão sendo por ele preparado.
Era gostoso ver como ele mexia na cuia revolvendo o mate, e depois chupando o líquido quentíssimo naquela bomba que ele dizia ser de prata.
Todo dia era assim.
Até que chegava o domingo e ele ia para a feira na cidade para comprar legumes e verduras, que ele não tinha costume de plantar no sítio.
Mas o "ir à feira" significava muito mais do que isso: significava encontrar-se com a mãe, comprar alguns jornais, visitar o irmão Aristeu ( antes de ter brigado feio com ele), passar um tempão na casa do Alcindo Nogueira e discutir política com quem chegava por ali.
Depois, a volta pra casa para almoçar com a família.
Num dia como o domingo, com certeza, ele estaria comendo bolinho de frango, pastel de carne moída, frango frito em pedaços depois de bem passados na farinha de trigo e macarronada com aquele molho encorpado que só minha mãe sabia fazer e que para ele eram as melhores comidas do mundo, manjares sem outros iguais.
Onde vocês estiverem, pai e mãe, saibam que jamais esqueço de vocês.

Luiza Válio

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