Alinhavando fatos daqui e dali, consegui, há algum tempo, tecer uma pequena biografia de Antonio Terra, meu tio.
No dia de ontem, fui premiada com a doação de algumas edições de jornais que já não existem mais por aqui, tais como: "A Razão", "O Progresso", "O Imparcial", etc., sendo esta doação feita por Paulo Manoel Silva Filho, um querido sãomiguelense que já reside em Sorocaba há muito tempo.
Qual não foi o meu contentamento quando toquei na edição de "O Progresso" de 29 de novembro de 1.931 e em sua primeira página lá estava a homenagem feita a Antonio Terra, por ocasião de sua morte.
É a complementação à biografia dele que me faltava para encerrar a pesquisa.
O aludido jornal tinha como redator responsável o senhor Acácio dos Santos Terra e como proprietário o senhor Antenor Moreira Silvério.
O aludido jornal tinha como redator responsável o senhor Acácio dos Santos Terra e como proprietário o senhor Antenor Moreira Silvério.
Transcrevo abaixo a matéria.
"ANTONIO TERRA"
São Miguel Arcanjo perde um de seus filhos mais diletos".
Vítima de insidiosa enfermidade que zombou de todos os recursos da ciência, faleceu no dia 23 do corrente, pelas 19 horas, o nosso estimado conterrâneo e amigo Capitão Antonio de Oliveira Terra.
Apesar de ser há muito tempo esperado o desenlace fatal que havia de suprimir do nosso convívio um dos mais diletos filhos desta terra, a sua morte foi sentidíssima por toda a população local e do município, sem distinção de pessoas ou classes.
E não era para menos tal expressão de pesar, pois Antonio Terra, desde sua juventude, tanto pelo seu proceder sempre correto e amor ao trabalho como porque nunca lhe faltaram ânimo e boa vontade na tarefa instintiva de ser útil a todos os necessitados, fossem eles quem fossem, jamais fraquejou na tarefa de prodigalizar benefícios e ser bom amigo e bom cidadão.
Até a idade de 24 anos, braço direito do lar paterno, a sua vida foi inteiramente dedicada à agricultura, onde se revelou trabalhador incansável e destemido.
Contemplando, porém, o estado de decadência em que se achava imerso o seu amado torrão, com as instituições quase abandonadas pelos seus patrícios, em 1.914 deliberou entrar para a Política, no desejo de emprestar o seu concurso à causa do progresso local.
Nesse ano foi eleito, pela primeira vez, vereador municipal e nos seguintes 1.915 e 1.916 ocupou o cargo de Prefeito, de cujo cargo desempenhou-se galhardamente, obtendo de seus conterrâneos os mais calorosos aplausos, pela dedicação e alto descortino com que procurou elevar a nossa cidade a um grau de progresso bastante sensível.
Durante esse período, sem ocasionar abalos na opinião pública, conseguiu elevar a renda municipal, que era apenas de sete contos anuais, ao limite de mais de 20, com o que pode realizar os melhoramentos que ainda existem, afrontando o tempo, e que se consubstanciam no calçamento da Praça João Pessoa, belo coreto na mesma praça, Matadouro Municipal, início e quase conclusão do novo cemitério, fechamento do perímetro julgado impossível de ser realizado anteriormente, pela grande oposição que se levantava quando tal medida era preconizada pelas ulteriores administrações.
Promoveu a uniformização das leis, regulamentos e resoluções da Câmara, publicando o Código de Posturas que ainda está em vigor.
Uma transformação quase geral se operou também no aspecto da cidade. Reformas e construção de novos prédios para o que, no sentido de facilitar os serviços, montou por sua conta olarias e atraiu para o nosso meio operários e profissionais de cidades vizinhas.
Infelizmente, razões de ordem superior obrigaram-no a afastar-se da Prefeitura, dedicando-se nos anos seguintes ao cultivo do algodão, de que se tornara propagandista fervoroso no município que até aquela época não cogitava de tal espécie de lavoura.
Em 1.918, conseguiu fazer entrar para uma das máquinas de descaroçar, então existentes, cerca de 6 mil arrobas de algodão em caroço.
Dessa época em diante, vendo que o algodão não lhe deixava lucros, dedicou-se à construção de prédios, alguns para si e outros de empreitada.
São cerca de 20 os prédios por ele construídos na cidade, contando-se no número deles, o grande e espaçoso prédio para as Escolas Reunidas locais, o qual não pode ser até agora acabado pelas circunstâncias bem conhecidas que lhe advieram e são do conhecimento público.
Em 1.922, Antonio Terra, apesar de ser amigo particular do Coronel Fernando Prestes, sentiu-se atraído de tal forma pela Epopeia de Copacabana, que não pode resistir ao desejo de voltar à política de reivindicações que se esboçara em nosso Estado, logo depois daquele maravilhoso surto de coragem que todo o país assistiu estarrecido.
Foi, então, um dos fundadores do Partido Municipal, com programa de intransigente oposicionismo.
Em 1.924, a Revolução de 5 de julho encontrou em sua pessoa um dos mais fervorosos simpatizantes.
Foi o mais exaltado revolucionário dentre os seus companheiros de partido, pelo que, logo após o triunfo da legalidade, passou por duríssimas provações, tendo sido preso e remetido para a cadeia de Itapetininga, onde fez companhia a outros revolucionários de procedências diversas.
Processado juntamente com outros companheiros políticos, foi, pouco tempo depois, despronunciado pelo Juiz Federal. que reconheceu serem tais processos originados por perseguições políticas de fundo detestável.
Data de então a vida de sofrimentos do nosso querido amigo extinto.
O fracasso da Revolução de 24 e as suas prisões ocasionaram-lhe grande abalo moral e consequentemente o abandono de interesses, pela intranquilidade de espírito sempre crescente e, por fim, a enfermidade prolongada e a morte.
O Capitão Antonio Terra nasceu nesta cidade em 1.890, tendo, portanto, 41 anos de idade.
Era filho do senhor Cornélio dos Santos Terra e de dona Pedrina Angelina de Oliveira, ambos descendentes das primeiras e conceituadas famílias que fundaram esta cidade e que eram as do Tenente Urias e dos Marianos.
Deixa viúva dona Georgina Válio Terra, com quem se casara em abril de 1.923.
Era genro do nosso distinto colaborador Major Luiz Válio e irmão dos nossos amigos José, João, Benedito, Dario e das senhoras dona Maria das Neves e Maria Joaquina, aos quais bem como a todos os demais parentes do saudoso morto, "O Progresso" envia os seus mais profundos sentimentos de pesar.
O se sepultamento deu-se na tarde de 24, tendo sido acompanhado até à última morada por enorme massa popular, onde se viam representadas todas as classes sociais.
Dentre as muitas coroas e ramalhetes de flores naturais depositadas sobre a campa, destacamos as seguintes:
-"Ao querido esposo, saudades de Georgina";
-"Ao inesquecível Antonio, último adeus dos irmãos Terra";
-"Ao querido genro, último adeus de Luiz e Nhá Lila";
-"Inesquecível Antonio, saudades do Tio Juvenal e família";
-"Saudades de Aristeu e Lucila";
-"Ao bom compadre, saudades de Matheus e família";
-"Ao Antonio, último adeus de Ademar e Nica";
-"Ao Capitão Antonio Terra, homenagem da Colônia Síria";
-"Saudades de José e Leonor Siqueira";
-"Saudades de Neves e Maria Joaquina";
-"Ao bom compadre Antonio, saudades de Salvador Caricatti e família";
-"Homenagem da classe trabalhadora";
-"Ao bom amigo Antonio, saudades de Edwiges Monteiro";
-"Ao bondoso Antonio, última recordação de Domingos Marcolino e Magdalena de Castro";
-"Homenagem do Partido Democrático";
-"Último adeus de Moacyr e Lourdes";
-"Saudades da família Fabiano";
-"Saudades de Gijo, Quica e Marina";
-"Tributo de amizade de Brasílio Ferraz";
-"Homenagem de "O Progresso".
Nenhum comentário:
Postar um comentário