sexta-feira, 26 de julho de 2013

HÉLIO RUBENS DE ARRUDA E MIRANDA, O MAIS NOVO MEMBRO DA ACADEMIA ITAPETININGANA DE LETRAS

Matéria preparada pelo jornalista Marco Antônio Vieira de Moraes para a revista Hadar, de Tatuí. Leia a íntegra da entrevista, onde o assunto foi a ditadura militar brasileira. A foto é do dia do casamento dele com a advogada Ana Elisa Bloes Meirelles, no ano passado.
1) Como você analisa o período da ditadura militar? Como era conviver com o cerceamento das liberdades?
Resposta: Foi, em minha opinião, o pior momento da história contemporânea do Brasil. Os mais novos talvez não saibam avaliar o que é viver sob constante pressão de denuncias - muitas delas sem a menor base e atendendo a critérios pessoais e de interesse econômico - que levavam os acusados a torturas e prisões. Toda e qualquer ação politica era considerada potencialmente subversiva e as autoridades ‘competentes’, à época, eram os militares de plantão e não os componentes do Poder Judiciário. Espero que as novas gerações compreendam bem o quanto de ruim e de atraso representa uma ditadura, para que possam evitar repetições desse drama no futuro. Com absoluta e completa censura à imprensa, só era publicado o que interessava ao regime e o que facilitava a vida dos corruptos, que se aproveitavam dessa falta de liberdade para suas falcatruas. Muitos jornalistas foram presos, torturados e mortos pelo regime militar, que durou mais de 25 anos, assim atrasando o desenvolvimento social do País. As poucas conquistas obtidas na área econômica - ações positivas que podem ser creditadas ao regime militar – interessaram mais às grandes potencias (EUA à frente) e especialmente às multinacionais, do que ao Brasil e não compensaram os prejuízos políticos e sociais causados.

2) Você foi perseguido pelo Regime? Chegou a ser preso ou ameaçado?
Resposta: Sim, por ter sido jornalista à época (fui nesse período editor do jornal Aparecida do Sul, em Itapetininga), sofri muitas ameaças de policiais e adversários políticos. Estes, fazendo o jogo da ditadura, taxavam de ‘comunistas’ todos os que discordavam de seus planos, muitos deles maquiavélicos e corruptos. Não foram poucas as vezes que eu e alguns colegas de redação tivemos que ficar de plantão a noite inteira, esperando as bombas que nos eram anunciadas antecipadamente por telefonemas anônimos. As bancas de jornais tinham medo de vender o ‘Aparecida do Sul’, temerosos de represálias por parte das forças de segurança. Havia grande dificuldade financeira para os veículos de comunicação democráticos. Os poucos anunciantes que se arvoravam a anunciar nesses veículos eram ameaçados e perseguidos. E até os leitores, em sua maioria apoiadora do jornal e de sua luta democrática, tinham medo de serem identificados como comunistas. Eu não cheguei a ser preso, mas fui psicologicamente torturado pelas prisões arbitrárias, pelas constantes ameaças que sofri e pelas atitudes antidemocráticas de autoridades que não se conformavam com a liberdade de expressão.

3) Dá para afirmar que a repressão foi mais forte nos grandes centros urbanos do que no interior do País? Ou na sua avaliação a repressão foi intensa também no interior?
Resposta: Não me parece correta essa realidade. A repressão foi igualmente dura em todo o País. É possível até que nas cidades menores o problema tenha sido maior ainda, pois as pessoas consideradas politicamente à esquerda, eram conhecidas das autoridades que compactuavam com as ditaduras militares e assim visadas e perseguidas. Foi grande o numero de patriotas brasileiros que, por se manifestaram a favor da democracia e contra a censura, foram perseguidos, presos e/ou exilados, muitos deles que viviam nas cidades do interior, como Itapetininga.

4) Conhece alguém que foi preso ou exilado?
Resposta: Sim, vários. Só para citar um, de Itapetininga, lembro-me do nome do Maurinho Leonel, um verdadeiro democrata, que teve que sair do País para não ser preso e torturado.

5) Como você viu a campanha pelas Diretas Já em 1984?
Resposta: Foi um momento épico da vida nacional. A população, cansada do arbítrio e da impunidade, mobilizou-se, foi às ruas e disse um NÃO! ao regime militar, exigindo eleições limpas e democráticas. Foram os jovens que mobilizaram a Nação naquela época e a eles se deve creditar o processo de redemocratização.

6) O fato da emenda Dante de Oliveira, que restabelecia a eleição direta para presidente, não ter sido aprovada pelo Congresso, foi frustrante para você?
Resposta: Foi frustrante para mim e para a maioria do povo brasileiro, que queria a aprovação dessa emenda que tinha como objetivo o retorno do Pais ao processo eleitoral democrático.

7) Como você viu a eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral e o subsequente martírio do presidente, que faleceu sem tomar posse?
Resposta: Tancredo acabou sendo um símbolo da redemocratização e por essa razão venceu a eleição indireta então em vigor. Sua doença, constatada logo após o pleito, levou toda a imprensa a acompanhar pari-passu todo o tratamento médico, até a sua morte. Devido a isso, a população se emocionou, transformando o período em um verdadeiro martírio de um herói da pátria. A posse de seu vice, José Sarney, confirmou a validade do pleito, ainda que contra o desejo dos militares.

8) Como você analisa a eleição de Fernando Collor e os acontecimentos que desencadearam o impeachment do presidente? 
Resposta: Acho que a população como um todo não erra nunca. Apesar de à primeira vista a eleição de Fernando Collor ter sido um erro - pois ele não tinha liderança para tanto e foi fruto apenas de um movimento artificial criado por uma parte da mídia temerosa do ‘perigo comunista’ que representava a eleição de Lula - algumas atitudes dele enquanto presidente foram importantes para o País. Além disso, no período em que ele governou, as forças democráticas tiveram oportunidade de se unir mais ainda e assim trabalharam juntas para conscientizar a população da importância de um país decente e sério. Pode-se avaliar, assim, que apesar das aparências, a eleição de Collor, em longo prazo, foi útil para o País. Os acontecimentos que provocaram e culminaram com a deposição do presidente Collor foram importantes para mostrar que o povo, unido, tem poderes para impor sua vontade.

9) Qual a expectativa em relação ao governo Dilma?
Resposta: Apesar de não ter votado nela, porque avaliei que a Marina era a melhor opção, tenho esperanças de que haverá um bom período para o Brasil nas mãos da presidenta Dilma, inclusive porque a situação internacional é favorável, atualmente, aos países em desenvolvimento. Só se ela errar muito, não acertará.

Por favor, se identifique:
Nome completo: HELIO RUBENS DE ARRUDA E MIRANDA
Idade: 68 ANOS DE IDADE FÍSICA E 45 DE IDADE MENTAL.
Profissão: jornalista, editor do Jornal eletrônico ROL - REGIÃO ON LINE.

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