sábado, 1 de novembro de 2014

ISSO VAI LONGE... MAS QUAL SERÁ A PENA DE FÁBIO HIROSHI HATTORI?

AUDIÊNCIA DO CASO FÁBIO HIROSHI NO FÓRUM DE SOROCABA

As seis vítimas que foram atropeladas pelo comerciante Fábio Hiroshi Hattori, no quilômetro 107,9 da Rodovia Raposo Tavares, foram ouvidas na tarde de ontem, no Fórum de Sorocaba. A primeira audiência ocorreu na 3ª Vara Criminal do Fórum de Sorocaba. 
O processo, a princípio o homicídio tipificado como dolo eventual (quando o responsável não tem intenção de matar, mas não se importa com o que pode acontecer e assume o risco), foi interpretado pelo Ministério Público como culposo (quando não há intenção de matar, entendido somente como imprudência). 
De acordo com o promotor Eduardo Francisco dos Santos Júnior, que analisou inicialmente o inquérito, o acidente aconteceu porque o motorista dormiu ao volante e não necessariamente por ter ingerido bebida alcoólica. O comerciante, que estava preso no Centro de Detenção Provisória de Tremembé, no Vale do Paraíba, foi solto e responde ao processo em liberdade. 
A audiência começou às 14 horas e terminou por volta das 16 horas, com a presença dos advogados de defesa e de acusação. Mário Del Cistia Filho, que defende Hattori, pediu que seu cliente não comparecesse ao Fórum, pois ele tinha o direito de não rever as vítimas. “Nestas primeiras oitivas, a presença dele seria desnecessária, por isso achei conveniente que ele não comparecesse.” 
Ademar Gomes, que defende as famílias das vítimas, lamentou a decisão do Ministério Público em permitir que o réu fique em liberdade, e acredita que a Justiça não foi bem-aplicada. “O processo devia permanecer como dolo eventual, pois o condutor estava embriagado e dirigia em alta velocidade. 
Foram seis pessoas mortas e outras seis feridas. Ele agora responderá ao julgamento em liberdade, pagando somente cestas básicas. A justiça brasileira deixa impunes os motoristas que dirigem sob o efeito do álcool. As leis de trânsito precisam ser revistas em nosso País para que isso não aconteça mais.” 

Familiares pedem justiça
Nicolas William dos Santos, 16 anos, estava entre as vítimas atropeladas e recupera-se até hoje do acidente. Ele ficou quatro dias em coma, pois teve o quadril deslocado. “Depois que saí do coma, fiquei muitos dias sem andar. Eu consegui ficar bem, mas sinto por ter perdido meus amigos que morreram.” 
A mãe dele, Patrícia Aparecida da Silva, de 35, disse que os dias em que o filho permaneceu desacordado foram terríveis, até ter certeza de que ele sobreviveria. Desde o dia em que foi internado, ele passou por nove cirurgias e ainda passará por uma no joelho para melhorar seus movimentos. 
“Meu filho jogava bola e andava de skate. Agora está proibido de praticar esportes. Ele passou por várias cirurgias. Os médicos disseram que existe um grande risco de necrosar a articulação do quadril. Se isso acontecer, terá que usar prótese. Queremos que o culpado pague pelo que fez; que a justiça seja feita pelo mal que ele causou.” 
Maria Marques, 50 anos, mãe de Iven Matheus Silva, de 16, disse que o filho teve sorte de não ter morrido, porém ficou com sequelas das lesões sofridas. “Foram três cirurgias até agora. Meu filho tem sido um guerreiro em sua recuperação. Ele tem muita força de vontade. Está passando pelas fisioterapias para melhorar. Não morreu por uma sorte.” 
Já João Batista Modesto, 56 anos, lamenta pelo filho, Guilherme Santos Modesto, não ter sobrevivido ao acidente. Ele contou que o garoto tinha 18 anos e estava feliz por ter conseguido o primeiro emprego, numa escola da Jardim Nova Esperança, onde a família mora. “Ele tinha planos de continuar os estudos e trabalhar. Meu filho não frequentava baladas, sempre voltava cedo pra casa com os amigos.
Mas, naquele dia, em abril, ele aceitou ir na festa rave com os colegas, pra nunca mais voltar. O Guilherme gostava de ir à igreja e era um menino que não dava trabalho. Minha esposa está passando por um tratamento contra a depressão, pois não conseguiu superar até hoje a sua perda. Depois que fiquei sabendo que o acusado ficará em liberdade, perdi as esperanças na justiça. Justiça mesmo só a de Deus pra nos proteger.” 
Os outros jovens, que também foram ouvidos ontem, são Jônatas Carvalho dos Santos, 19 anos, Alan Resende Oliveira, de 18, Thaís Marins Ferreira, de 16, e Felipe Gustap Monteiro Trindade, de 23. Outras audiências estão previstas ainda para este ano, com a presença de testemunhas, dos policiais que atenderam à ocorrência e de Fábio Hattori, que provavelmente será o último a depor. 

O caso
Fábio Hiroshi Hattori retornava de uma festa em Itapetininga quando o veículo que dirigia atingiu 12 jovens que esperavam o ônibus no acostamento da rodovia, no dia 6 de abril, depois de saírem de uma rave. Seis deles ficaram feridos e outros seis morreram: Leo Wagner Ribeiro das Neves, 19 anos, Giovanni Cartezano Inocêncio, de 17, Guilherme dos Santos Modesto, de 18, Amanda Oliveira Alquati, de 17, Lucas Alexandre Vieira, de 20, e Evelyn Caroline Fernandes de Matos, de 15. 
O exame de dosagem alcoólica feito pela Polícia Rodoviária mostrou que o condutor estava embriagado. Ele foi preso no local do acidente e, depois de passar por cadeias da região, foi transferido para o Centro de Detenção Provisória de Tremembé, no Vale do Paraíba, onde ficou detido até a decisão de liberdade, solicitada pelo Ministério Público.

Matéria reproduzida do Diário de Sorocaba.
Foto de Emídio Marques para o Cruzeiro do Sul.

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