sábado, 6 de dezembro de 2014

BOM DIA!

Um dia é da caça. No outro dia, o caçador é que leva um escorregão e é apanhado pelo bicho bicho ou pelo bicho do seu companheiro. 
Ontem, aconteceram algumas desgraças que acabaram acorrentando o equilíbrio da vida, porque o bicho homem deixou de ser homem, implantou rabo e chifres e empunhou um tridente. Hoje, a cólera aplacou; engaiolaram o bicho que virou cordeiro - e vai que no fundo, no fundo, era apenas isso mesmo que o tal de homem bicho teria desejado.
Num dia tem sol. No outro, reina o tempo ruim, descamba o relógio. 
E se hoje está frio, este frio não vai permanecer, porque as nuvens movimentam-se e amanhã, quem sabe?
O que não pode acontecer é estacionar no caminho devido às anomalias da existência humana que no mais das vezes vive à mercê do tempo que a natureza faz.
Vamos proceder como o caracol das Fábulas Fabulosas do Millôr Fernandes.
Pois há dois dias o caracol galgava lentamente o tronco da pitangueira, subindo e parando, parando e subindo.
Quarenta e oito horas de esforço tranquilo, de caminhar filosófico.
De repente, enquanto ele fazia mais um movimento para avançar, desceu pelo tronco, apressadamente, no seu passo fustigado e ágil, uma formiga-maluca, dessas que vão e vem mais rápidas que coelho de desenho animado.
Parou um instantinho, olhou zombeteira o caracol e disse:
- Volta, volta, velho! Que é que você vai fazer lá em cima? Não é tempo de pitanga.
- Vou indo, vou indo - respondeu calmamente o caracol. - Quando eu chegar lá em cima, vai ser tempo de pitanga.
Tem razão o caracol.
Seja racional você também, pelo menos neste sábado!

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