quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

BENJAMIN MOSER, UM ESTRANGEIRO QUE CONHECE MAIS DO BRASIL DO QUE OS MEDROSOS BRASILEIROS

Um repórter da Zero Hora, em 29 de novembro do ano passado inquiriu ao escritor Benjamin Moser, escritor e tradutor nascido em Houston, autor da obra "Cemitério da Esperança", conhecido como o biógrafo de Clarice Lispector:

----- Você comenta, em Cemitério da Esperança, que Brasília é o ápice de um pensamento nacional de construir um futuro escondendo ou apagando os problemas do passado. É um de pensamento que ainda persiste na sociedade contemporânea que discute, com dificuldade, o período da ditadura militar, por exemplo?

MOSER: -----Eu passei muitíssimo tempo no Brasil e creio que conheço o país bem. E como estrangeiro sinto-me obrigado a falar coisas que a maioria dos brasileiros não pode. Não porque não saibam ou não queiram. Mas entrei na briga com Caetano Veloso e cia. contra o projeto de censura às biografias (em 2013) justamente porque sei como é difícil para os jornalistas brasileiros, os escritores brasileiros. Como estrangeiro, posso falar, porque não dependo do Brasil, não vivo aqui. Mas quando fiz a biografia de Clarice Lispector, fiquei atônito pela quantidade de coisas que botei no meu livro que as pessoas acharam “corajosas.” Não eram. Como dizer que Mário de Andrade era homossexual. Mas tantas vezes me disseram: “Aqui não se pode falar isso. Se eu falasse isso ou aquilo perderia meu emprego no jornal, na faculdade.” Isso impera em muitas áreas. E o ruim do projeto de censura às biografias é que, como tantas coisas no Brasil, não é uma ameaça direta. Esse não é o estilo brasileiro. Mas é um aviso. Porque quem vai comprar briga com gente poderosa? Então há grandes, imperdoáveis silêncios no Brasil. A ditadura militar é um dos maiores."

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