terça-feira, 5 de setembro de 2017

MORREU ASTOLFO


Com a idade de 74 anos, morreu Astolfo Barroso Pinto, atriz conhecida como travesti Rogéria. 
A foto é de Marcelo Theobald para o Extra que informa que ela estava internada para tratar de uma infecção urinária na Unimed-Rio e faleceu no dia de ontem, às 22h00; a infecção generalizou-se.
A cidade de Cantagalo recebe o filho famoso que lá ficará sepultado no dia de hoje, após o velório no Teatro João Caetano, das 11 às 13 horas para a família e amigos mais íntimos e das 13 às 18 horas para as outras pessoas.
A biografia de Rogéria consta do site da Prefeitura de Cantagalo, bem como de personagens como: Euclides da Cunha, Luma de Oliveira, Eduardo Chapot Prévost, Antonieta de Souza, Afonso Stael, Maria Jacinta Trovão, Roger Noronha, Tancredo da Silva Pinto, etc...

Rogéria é o nome artístico de Astolfo Barroso Pinto, que nasceu em Cantagalo (RJ) no dia 25 de maio de 1943.
Rogéria não demorou muito para que sua estrela começasse a brilhar. Era atração do bairro onde morava com sua família, tendo total apoio de sua mãe, Dona Eloá, e seus dois irmãos, todos sem nenhum preconceito em relação ao homossexualismo.
Na juventude, tendo se inspirado em ícones cinematográficos internacionais, como Betty Davis e Marilyn Monroe, desde os 10 anos, quando morava em Niterói, interpretava personagens como Cleópatra e costumava se atirar dos cipós imitando Jane, preferida do Tarzan.
Sua mãe bordou toda a primeira roupa de baiana para o show inaugural de sua gloriosa carreira, que aconteceu no Stop Club, na década de 1960.
Rogéria virou transformista desde a adolescência, mas considera-se transgênero e confessa nunca ter tido vontade de realizar a cirurgia de redesignação sexual, declarando-se feliz com sua genitália masculina. 
Foi maquiador na extinta TV Rio e vedete. Morou no exterior, apresentando espetáculos.
A consagração do nome artístico veio no concurso de fantasias no Teatro República (RJ), em 1964. 
Vestida de Dama da Noite, vedete sofisticada do Moulin Rouge (Paris), empatou em primeiro lugar com Susy Wong, que estava ricamente vestida. 
O resultado ocorreu não tanto pelo luxo de sua fantasia, mas pela presença de um talento nato, que a levou a roubar a cena. Foi quando, pela primeira vez, o público aclamou por Rogéria.
Na Espanha, nos anos 70, enquanto participava do espetáculo com sucesso absoluto de público, teve que abandonar o palco devido às leis locais que obrigavam a operação de troca de sexo, prontamente rejeitada por Rogéria.
Transferiu-se para a França logo a seguir, sendo o grande destaque do Carrousel de Paris. Nesta fase deixou o cabelo crescer, optou por fazer tratamento hormonal onde a figura feminina definitivamente se instalou.
Na volta ao Brasil, os elogios à sua carreira tornaram-se fatos corriqueiros, tendo recebido varias condecorações, entre eles o Prêmio Mambembe (1979), pelo espetáculo que fez ao lado de Grande Otelo com direção de Aderbal Freire Filho.
Figura frequente no cinema brasileiro, participou também como jurada em vários programas de auditório nas últimas décadas, de Chacrinha a Gilberto Barros. 
Rogéria se transformou no maior ícone gay brasileiro e, sem dúvida, é um grande talento nacional e internacional.
Falar da arte do transformismo no Brasil é falar sobre Rogéria. Esta artista representa todas as possibilidades que um espetáculo transformista pode ter. 
Possuidora de um carisma todo especial, Rogéria tem a qualidade de estrela que a coloca entre as principais figuras de nosso palco. Vaidosa e com tudo em cima, não descuida do visual, além de estar em ótima forma física, parecendo uma verdadeira pin-up.
Rogéria é uma profissional que conhece seu habitat - o palco - como poucos. Totalmente adaptada a esta caixa mágica, talvez ninguém pise num tablado melhor que ela. Ao acender as luzes dos refletores, surge o artista em seu brilho máximo, com todo o encantamento, num misto de perfeita voz com refinada ironia de atriz cômica.
Dona de uma grande empatia é em Rogéria que temos a amostra do número de plateia, um dos momentos mais difíceis para o artista. 
Com sua astúcia ferina (no bom sentido) consegue prender a atenção do público sem que se perca o humor e alegria neste tipo de entretenimento. Ver Rogéria em cena cantando ou conversando com o público é ter certeza do que é uma verdadeira show-woman ou quem sabe um show-man, porque em Rogéria não vemos o travesti que apenas se fantasia de mulher e sim um artista que se veste de mulher para mostrar com elegante categoria toda uma arte especial.
Saber envelhecer no Brasil é uma arte. Poucos conseguem assumir a idade e mostrar ao público brasileiro que talento é como o vinho. Quanto mais velho, melhor é saboreado. Rogéria é como um vinho de uma boa safra, que foi melhorando a cada ano. Hoje cada aparição, seja em boate, teatro ou bares é como degustar a bebida em enorme estado de prazer.
Atualmente faz espetáculos por todo Brasil onde concilia boa música e excelente humor, sendo frequentemente aplaudida de pé pelo público. 
Em seu talk-show gosta de relembrar estórias da sua passagem de maquiador para a Rogéria atual. Comenta: “enquanto maquiava Fernanda Montenegro, Elizete Cardoso, Dalva de Oliveira, Ângela Maria, Linda e Dircinha, Consuelo Leandro, Nair Belo, Sara Montiel, Rita Pavone, Josefhine Bacher e outras, elas ficavam no meu ouvido atazanando que meu lugar não era ali e sim no palco. Foi quando perguntei para Fernanda: como é que eu vou para o palco vestida de mulher? E essa diva respondeu: arte independe de sexo. Se você tem talento vai dar certo, não custa nada tentar. Aí eu fui e aconteceu!”...
Assim é Rogéria, acima de tudo um ser humano brilhante que merece todo respeito e credibilidade pela sua coragem, sinceridade e dignidade.
 
Principais Trabalhos

TV
"Toma Lá Dá Cá" – 2007
"Paraíso Tropical" – 2007
"Brava Gente" (episódio "O Enterro da Cafetina" - 2002)
"A Grande Família" (episódio "Ô Velho Gostoso" - 2002)
"Desejos de Mulher" (2002)
"Você Decide" (episódio "Mulher 2000" - 1999)
"Sai de Baixo" (episódio "Adivinhe Quem Vem Para Jantar" - 1997)
"Tieta" (1989)

Cinema
"Copacabana" (2001)
"O Vestido Dourado" (curta - 2000)
"Hi Fi" (curta - 1999)
"A Causa Secreta" (1994)
"A Maldição do Sanpaku" (1991)
"Gugu, O Bom de Cama" (1979)
"O Gigante da América" (1978)
"O Sexualista" (1975)
"Enfim Sós... Com o Outro" (1968)
"O Homem Que Comprou o Mundo" (1968)
"Um Pirata do Outro Mundo" (1957)
"Balança Mas Não Cai" (1953)

Teatro
"7 - O Musical" (2007)
"As Divinas Divas"
“Querelle” (1989)
"Roque Santeiro" (1987)
"Gays Girls"
"Gay Fantasy"
"Rio Gay"
“Adorável Rogéria”
Em 2007, Rogéria faz participação especial na novela "Paraíso Tropical", no sitcom "Toma Lá Dá Cá; e integra o elenco de "7 - O Musical", de Charles Möeller e Cláudio Botelho, e música de Ed Motta.

Nenhum comentário: