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Homenagem ao meu querido, amado, inesquecível e abençoado Pai Sr. Joaquim Rodrigues Ferreira
O meu Pai Joaquim era mais conhecido como Joaquinzinho Rafaé.
Explico: O meu avô Paterno chamava-se Rafael Rodrigues de Aquino, então o pessoal do Comércio chamava o meu Pai de Joaquinzinho do Rafael e depois foi diminuindo para apenas Joaquinzinho Rafaé.
O Armazém de meu Pai chamava-se "Casa do Povo", especializado em Secos & Molhados e ele vendia várias sacas de café em grãos de 60 kg cada, vários tipos de feijões, tais como Jalo, Bolinha e Guandu, vários tipos de arroz “Bico de Ouro”, “Agulhinha” e “Cateto”.
O arroz “Agulhinha” e “Cateto” foi lembrado pela minha querida amiga Maria Inez França, pelo que sou muito grato, cujo pai Sr. João Coelho possuía também um Armazém na rua Siqueira Campos.
Os balcões do Armazém eram extensos e todos com tampas, por exemplo: um balcão para feijão, um balcão para arroz, outro para café e assim por diante.
Lá também se vendia arame farpado, pregos 15x15, 17x21, vendia também muitas latas de pescada.
Ali se vendia também torradeiras de café, moinhos para moer café, moinhos para moer carnes, sabão em pedra que vinha em caixas de madeira que chamava-se "Vencedor".
Na época de meu Pai, a maioria de seus clientes vinham dos sítios á cavalo ou em carroças e amarravam os seus cavalos em palanques que meu Pai mandou instalar nos fundos do Armazém.
O fiel Funcionário de meu Pai Sr. Miguel Alves Machado, carinhosamente chamado de “Guesinho” ia colocar milho e água para os cavalos.
Os sitiantes com pressa de voltarem para a casa á cavalo ou de carroça, então meu Pai estendia no balcão uma folha bem branquinha que era usada para embrulhar pães, abria latas de pescada, picava cebola e uma concha de farinha do monjolo amarela e eles se fartavam de comer.
Eu me recordo que em seu Armazém ele possuía as seguintes bebidas: Ferro Quina, Fernet e Conhaque do Reino.
As Cachaças eram a Cabreúva (branca) e a Rosa (amarela).
O meu Pai também vendia em seu Armazém a cerveja escura chamada MalzBier, em pouca quantidade, cervejas Antarctica, em grande quantidade e elas vinham todas empalhadas porque na época não havia geladeira no Armazém. Meu Pai também vendia a cerveja escura Caracu e lembro-me até da propaganda dessa cerveja: “quem bebe caracu, forte fica”, “beber caracu é beber saúde”, todas essas bebidas eram adquiridas pelo meu Pai pelo Distribuidor de Bebidas de Sorocaba Sr. Alarcon, que vinha sempre acompanhado com seu filho Beto, que usava óculos escuros.
Para as crianças o meu Pai também vendia bolachas maria, maisena, teta de nega e maria cachucha, além de um estoque imenso de latas de balas Líder, que era muito difícil abri-las e eu necessitava de um canivete para poder abrir a lata de bala Líder para me lambuzar de chupa-las e aproveitava para lamber os manás que eram muito docinhos.
Para dar de beber as criançadas o meu Pai vendia Groselha Milani, que misturada com água e aí chamavam de “capilé”, também a Taubaina Ruzza, que em seu rótulo vinha o desenho da fruta guaraná e a famosa caçulinha, que era uma mini guaraná Antarctica e nós furávamos a tampa com um prego para bebermos no bico.
Os cigarros que ele vendia eram o Pullman, que tinha uma carruagem na frente de seu maço, cigarro Macedonia, maço meio amarelo e o famoso Continental.
Ele também vendia fumos de corda em três espécies: Macaio (muito forte), Tietê (menos forte) e o Goianinho (mais suave).
Para picar o fumo o meu Pai vendia também canivetes e facas de cozinha da marca Solingen.
Eu ficava observando os sitiantes picarem o fumo de corda e amassarem em suas mãos, esfregando o polegar em um movimento de vai e vem até mistura-los. Depois ficava observando eles tirarem a palha de milho de seus bolsos traseiros, rasparem com o canivete, apararem as suas extremidades e alisarem com o canivete a palha suavemente. Era muito bonito de ver eles colocarem o fumo na palha e lamberem para grudá-las. Eles gostavam muito de mascar o fumo de corda e segundo eu fiquei sabendo posteriormente esse hábito antigo fortalecia os dentes e evitava cáries.
O “Guesinho” fumava cigarro de palha bem grosso, o Sr. Tomaz de Souza fumava cigarro normal, o Sr. Teophilo Moisés, este sim tinha um cigarro de palha muito grande, gigantesco, parecia até um charuto de tão grande.
O imenso estoque de açúcar Cristal o meu Pai adquiria junto ao Comerciante Pelegrini de Itapetininga em sacas de 60 kg cada e o estoque de meu Pai era muito grande, pois as pilhas de açúcar Cristal chegavam até o teto.
Ele vendia também açúcar mascavo e eu me deliciava em pegar com minhas mãos os torrões e colocava em minha boca.
Meu pai vendia também manjubinha salgada e bacalhau já salgado que vinha da Noruega.
O meu Pai vendia também somente duas espécies de macarrões spaght e tagliarini fabricados pelo moinho Santista e vinha em pacotes alongados em listras brancas e azuis.
O meu Pai vendia também em seu Armazém latas de cera parquetina, eram bem vermelhas e havia nas latas a imagem de um jovem negrinho com um quepe branco.
Certa feita assistindo na Tv Record o Programa “O fino da Bossa”, comandado pela Cantora Elis Regina e Coadjuvado pelo Cantor Jair Rodrigues, ela se referia ao Jair Rodrigues como “O garoto Parquetino”.
Havia também a cera cachopa e para encerar a casa o meu pai vendia também escovões, ferro para passar roupa (onde era colocado brasas), soda caustica caveira, fole para matar formigas, formicida tatu, Qboa, desinfetantes creolina, rodos, vassouras, palhas de aço para arear as panelas, talhas de barro e papel higiênico Guri, maços de fósforos das marcas “Fiat Lux” e “Pinheiro” que vinham em embalagens de madeira mesmo, breu, querosene Jacaré, detefon, maços de velas “Santa Terezinha”, banha de porco embalada em formato de tijolos, salvo engano era da marca “Sadia”, latas de massa de tomate da Cica, marca “Elefante”, lamparinas, creme dental Kolinos, escova dental, além de tranças de alho, sendo que no fundo do Armazém havia uma tina de madeira para os clientes de meu Pai lavarem as mãos.
O meu Pai, entre tantos clientes, tinha os negros da Fazenda do moinho que vinham até o Armazém em carro de boi.
Eles eram muito papudos e em seus pescoços haviam os papos enormes, que de tão grandes pareciam que estavam pendurados. Lembro de dois nomes Sr. Amador e Sr. José, mas haviam outros.
Eu ficava contando nos dedos os dias em que os negros do moinho vinham fazer compras, porque depois das compras eu pegava carona no carro de Boi deles e descia nas cercanias do cruzeiro e depois voltava a pé para a casa.
Nas antevésperas dos Natais o meu Pai convidava os negros do moinho e muitos outros clientes e mandava preparar leitoas e frangos assados e servia vinhos para todos.
Na Vitrine de meu Pai o meu irmão Miguel Rodrigues Ferreira colocou uma foto do Corinthians e por incrível que pareça, apesar de não ser Corintiano, eu me recordo da escalação completa do Time: Goleiro Gilmar dos Santos Neves (ou o seu Goleiro reserva “Cabeção”), Homero e Alan, Idario, Goiano e Roberto, Claudio Cristóvão Pinho, Luizinho (“O pequeno Polegar”), Baltazar (“Cabecinha de Ouro”), Carbone e Simão (ou seu Reserva Jansen).
O meu querido Pai Joaquim gostava de Teatro, pois segundo o Sr. Aligio José da Silva foram duas ou três vezes em São Paulo, em ocasiões diferentes, assistirem o Espetáculo da Célebre pequena notável Carmen Miranda, ao lado dos Comediantes Oscarito, Grande Otelo e a Portuguesa Beatriz Costa.
O Espetáculo era realizado no Cassino Antártica, então localizado no Vale do Anhangabaú.
Depois do Teatro, o meu Pai Joaquim e o Sr. Aligio pernoitavam em uma pensão na rua Padre Carvalho perto do Largo de Pinheiros.
O Governador Ademar de Barros vinha em São Miguel Arcanjo em um carro chamado Simca Chambord cor de abóbora, sempre acompanhado de sua esposa Sra. Leonor Mendes de Barros e parava em frente a Igreja Matriz. Subia as escadarias certamente para fazer uma prece e quando ele saia da Igreja, tinha em sua frente um coreto e a corporação musical comandada pelo Maestro Sr. Joaquim Ortiz de Camargo, carinhosamente chamado de “Joaquim Maestro” e executava alguns dobrados para saudar o Governador e depois disso ele ia abraçar seus correligionários principalmente, o Portentoso Comerciante Sr. Teophilo Moisés e, em seguida, ia abraçar o Sr. João Batista Simões.
Depois disso o Governador Ademar de Barros e esposa iam visitar demais Ademaristas.
O outro Armazém bem próximo ao de meu Pai era do Sr. Teophilo Moisés em cuja vitrine do Armazém havia uma foto do Governador Ademar de Barros e sua esposa Sra. Leonor Mendes de Barros.
O Sr. João Batista Simões, carinhosamente conhecido como “Santo” que sempre trajava um terno de linho branco 120, segundo sua bela filha Dra. Vera Regina, ilustre Advogada tinha guardado em seu cofre uma foto do Governador Ademar de Barros.
O Sr. Teophilo Moisés foi casado com a Sra. Maria da Paz Moisés e tiveram uma única filha a bela Professora Teresinha Moisés, de quem fui aluno no Curso Primário.
Ela foi casada com o Sr. Romeu Miguel, já falecido e tiveram três filhos: Ricardo, Renato e Romeu Filho.
O Sr. João Batista Simões foi casado com a Sra. Maria Jacob e tiveram três filhos: João Alberto Simões, a belíssima Dra. Vera Regina Simões e José Tadeu Simões.
O Sr. Tomaz de Souza tinha um Armazém bem próximo ao de meu Pai, ele foi casado com a Sra. Maria Aparecida de Souza e seu filho mais velho chamava-se Antônio Santana, todos já falecidos, mas ainda estão vivos seus filhos Maria Tereza e Lucio.
O Sr. Tomaz de Souza usava óculos escuros e até hoje não sei se ele tinha problemas visuais.
O meu Pai foi um grande Comerciante dessa cidade, tinha um estoque monumental de mercadorias e as suas compras eram feitas em São Paulo no Comércio Atacadista das ruas Paula Souza e Barão de Duprat.
Segundo o Sr. Aligio José da Silva, que até hoje reside nessa cidade e foi casado com a minha prima Alzira Rodrigues, ele me disse que muitas compras eram feitas na Casa Martorano.
O meu Pai foi Vice-Presidente da Câmara dessa cidade e um dos Fundadores do Club Recreativo Bernardes Junior.
Salvo engano, por se tratar de um forte Comerciante, o meu Pai Joaquim foi o único negociante que nos tempos da Segunda Guerra Mundial possuía salvo conduto, uma espécie de passaporte para fazer compras em São Paulo, sobretudo de sal e açúcar que eram escassos e esse salvo conduto impedia que o Exército ou qualquer autoridade pudesse cercear as suas compras na Capital.
O fiel Funcionário de meu Pai “Guesinho” tinha tanta habilidade para pesar os kg que vendia e colocava nos saquinhos adequados e punha na balança Filizola que ficava sobre o balcão e não dava outra, nunca errava no peso.
Era impressionante a precisão do Guesinho para saber a quantidade certinha que colocava nos saquinhos apropriados para dar a pesagem correta.
O meu Pai também possuía uma balança que ficava no chão e tinha vários tipos de pesos, de 1/2 kg, 1 kg, 2kg e assim por diante até talvez 60 kg.
Essa balança tinha uma espécie de pendulo e em suas laterais tinha uma espécie de ganchos para serem colocados os pesos. Ela servia para pesar as sacarias de grandes volumes e eu pegava alguns pesos e eram tão pesados que imagino que eram feitos de aço.
Eu não me recordo o ano, mas sei que meu Pai sofreu um derrame, que hoje chamam de AVC e ficou com uma perna e um braço muito lentos, mas caminhava normalmente apoiando-se em uma bengala e chegava até a atravessar a rua para ir no Armazém de seu vizinho Sr. Tomaz de Souza.
O meu Pai era um Católico muito devoto e em minha casa ele tinha uma imagem de Nossa Senhora Aparecida mais ou menos no meio da sala. Ele chegava da rua parava em frente a imagem, encostava sua bengala, tirava seu chapéu e fazia o sinal da cruz e esse gesto se repetia tantas vezes que viesse da rua para entrar em casa.
O seu fiel Funcionário “Guesinho” dava banho em meu Pai todos os dias, sem cobrar um centavo sequer.
O “Guesinho” sempre foi muito dedicado em servir o meu Pai, mesmo depois de sua enfermidade.
O meu Pai tinha seu Barbeiro predileto e o nome dele era Sr. Euclides de Almeida, mais conhecido como “Cride Barbeiro” e não me recordo quantas vezes por semana ele ia em minha casa fazer a barba de meu Pai, que sempre foi um homem vaidoso.
O meu Pai tinha um terno muito bonito na cor preta de Casimira Inglesa, gravata preta, ele era calvo mas tinha os olhos azuis fulgurantes. Na Câmara Municipal ele trajava um terno azul marinho risca de giz, também de Casimira Inglesa.
O meu querido Pai Joaquim foi um homem muito ativo e hábil negociante, ele chegava em casa para almoçar e tinha tanta pressa em voltar ao seu querido Armazém que muitas vezes almoçava em pé, sobre o protesto de minha mãe Juventina.
Eu sei que o Sr. meu querido Pai Joaquim Rodrigues Ferreira não morreu, pois o que morre é o corpo físico e a alma ou o espírito sobrevive.
Vou revelar um segredo: quando eu estava internado no Hospital São Luiz - Morumbi em estado de coma por quatro meses, os meus Pais Joaquim e Juventina estiveram sempre ao meu lado velando o seu filho.
O meu Pai me chamava de “Jango” e a minha Mãe de “Giovanni”.
Depois que sai do estado de coma, meus Pais desapareceram e deduzo que já sabiam que seu filho “Jango” , “Giovanni” já estava salvo, ia sobreviver.
O meu querido Pai Joaquim tinha pendurado na parede um reador (“readô”), relho (reio) de couro trançado, que nós chamávamos abreviadamente de "readô".
Bastava ele balançar o “readô” para nós não fazermos bagunça.
Certa feita, eu fiz uma traquinagem que eu não me recordo e o meu Pai pegou o “readô” para me bater e eu subi no abacateiro e cai e quebrei o braço, mas escapei da surra.
Talvez penalizado por ter quebrado o braço, logo em seguida o meu Pai me deu uma bola de capotam de couro costurada nº5 da marca “Drible”.
Quanto a minha saudosa Mãe Juventina ela nos pegava de vara de marmelo.
Eu até hoje mantenho contatos espirituais com o meu Pai Joaquim e a minha Mãe Juventina.
Em homenagem ao meu Pai Joaquim, eu pedi para a minha Ex-Funcionária Luciana Pinheiro para entrar em contato com o seu irmão Ricardo que mora no Bairro da Justinada que trabalha com couros e encomendei um “readô” para ele de couro trançado, que se acha pendurado ao lado de minha churrasqueira, como lembrança de meu querido Pai Joaquim.
Para lembrar de minha mãe Juventina pedi para plantar em meu quintal um pé de marmelo.
Certa feita eu li um comentário do meu querido Sobrinho José Alberto Ferreira dizendo que via sempre o meu pai sentado na frente da minha casa em uma cadeira.
Isso foi depois do derrame.
O meu Pai foi um homem muito ativo e hábil negociante e também um homem de elevados recursos financeiros.
Para você ter uma ideia, ao meu pai eram feitos muitos pedidos de empréstimos de somas em dinheiro, que eu ignoro a quantia.
Certa feita um famoso político pediu dinheiro emprestado para o meu pai, além de outras pessoas da alta sociedade também fizeram empréstimos com o meu pai.
Esses aspectos foram contatos pelos próprios parentes dessas pessoas que ele emprestou o dinheiro, por tanto, são fatos extremamente verídicos.
Só não fiquei sabendo e nem me interesso saber se meu pai cobrava juros dessas pessoas tão importantes.
Outro detalhe de meu pai: as vendas que fazia para clientes da cidade eram marcadas nas famosas "cadernetas".
Já para os sitiantes, eles só pagavam o meu pai quando colhiam a sua safra.
Segundo relatos que eu ouvi, muito sitiantes de vez em quando, vinham avisar o meu pai que tinha havido quebra de safra e meu pai deixava para pagar em outra safra, tamanha era a sua benignidade.
Por exemplo: o feijão quando é semeado e começa a brotar, se vem uma chuva muito forte os sitiantes perdem toda sua safra.
O tal Dia dos Pais é uma data puramente comercial e nós todos nos curvamos para presentear nossos Pais no segundo domingo de Agosto.
Não sou contra essa data comercial porque as crianças gostam de dar presentes aos seus Pais e não podem ser iludidas, embora eu discorde dessa prática.
Essa postagem é a minha homenagem do Dia dos Pais ao meu querido, amado, abençoado e inesquecível Pai Sr. Joaquim Rodrigues Ferreira e saiba que sempre te amei e vou te amar por toda a eternidade.
Seu Filho "Jango", João de Oliveira Rodrigues.
sma, 13082017 -
Do jeitinho que ele escreveu em sua página do face.
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