Investigações sobre “fake news” e protestos levaram Bolsonaro a decidir por troca no comando da PF.
23 de abril de 2020
Como sempre afirma o UCHO.INFO, na política tudo é previamente calculado para que os protagonistas evitem ao máximo chamuscamentos indesejáveis. Foi nesse cenário de precaução nada republicana que o presidente Jair Bolsonaro decidiu substituir o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, ato que ainda não foi consumado por causa da ameaça feita pelo ministro Sérgio Moro (Justiça) de deixar o governo.
Bolsonaro teria tomado a decisão ao saber que Valeixo manteve no inquérito sobre as manifestações antidemocráticas, aberto pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a pedido do Procurador-Geral da República, a mesma equipe que investigava o escândalo das “fake news” na Corte.
A irritação do presidente da República se deve ao fato de que informações apontam que as investigações se aproximam do chamado “gabinete do ódio” e do vereador Carlos Bolsonaro, também conhecido como “02” e responsável pela reação peçonhenta do presidente em alguns episódios.
A investigação não apenas teria identificado a origem das “fake news”, mas os financiadores do esquema fraudulento. Esse cenário, se desvendado, colocaria Bolsonaro em situação de extrema dificuldade.
Não por acaso, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) ingressou no STF com ação para impedir a prorrogação da CPI das Fake News no Congresso, mas o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), impôs sonora derrota à família presidencial ao conceder mais seis meses de prazo à Comissão Parlamentar de Inquérito.
Além disso, a equipe designada por Valeixo certamente identificará quem são os organizadores e financiadores dos atos que atentam contra a democracia e o Estado de Direito, os quais Bolsonaro classifica como livre manifestação do pensamento.
A reação de Sérgio Moro é compreensível, pois como ministro da Justiça o ex-juiz da Lava-Jato será figura decorativa, uma vez que perderá o controle da PF. Valeixo foi alçado ao comando da Polícia Federal por ser pessoa da estrita confiança do ministro.
A assessoria de imprensa do Ministério da Justiça não confirmou se Moro apresentou pedido de demissão, mas também não negou o fato que levou doses extras de tensão ao Palácio de Planalto.
Com o poder esvaziado e sem chance de indicar o sucessor de Maurício Valeixo, o ministro da Justiça sequer poderá negociar a prometida indicação ao STF, já que por enquanto não há na Corte qualquer vaga a ser preenchida.
Um dos mais populares ministros do governo Bolsonaro e um dos fiadores da candidatura do atual presidente, ao ministro Sérgio Moro só resta manter até o fim o pedido de demissão e sair do governo atirando na direção do Palácio do Planalto, caso queira preservar a popularidade e manter em marcha seu projeto político.
Para quem no último domingo (19), diante de apoiadores que se aglomeravam na frente do QG do Exército, em Brasília, disse que havia acabado a “patifaria”, Bolsonaro é a fulanização do deboche.
Jornalista Ucho Haddad
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