Senador “valentão” de Roraima diz que não lamentaria se jornalista sequestrado em Boa Vista morresse.
Por Redação Ucho.Info/27 de outubro de 2020.
O Brasil caminha perigosa e aceleradamente na direção da arbitrariedade, da supressão de direitos e do “vale tudo” para quem está no poder ou na sua órbita.
O sequestro de que foi alvo o jornalista Romano dos Anjos, de Roraima, serviu de base para declarações odiosas e infames do senador Telmário Mota (PROS-RR).
Encontrado vivo na zona rural da capital roraimense, Boa Vista, com os pés e as mãos amarradas e possivelmente fraturadas, o profissional de imprensa recebeu do parlamentar adjetivos como “mau caráter”, “bandido” e “mentiroso e safado”.
Em gravações compartilhadas no WhatsApp, Telmário Mota afirmou que o jornalista “deve estar sendo vítima das suas próprias palavras”.
O senador não economizou palavras e disse que não lamentaria a morte de Romano dos Anjos, caso isso ocorresse.
“Quanto à vida dele, é claro que eu quero, peço a Deus que salve, mas dizer ‘não, ele é gente boa’? Não, ele é mau caráter. Para mim, se o cabra não presta, pode até morrer, não vou dizer ‘ah, coitadinho, morreu”. Não. Se não presta, não presta. Acabou”, disse o senador da República.
Após a repercussão das gravações, Telmário tentou esclarecer suas insanas declarações.
Em entrevista ao jornal “O Globo”, o senador afirmou que caso o jornalista morresse “continuaria a dizer que ele não presta”. “Não é porque ele morreu que eu vou dizer que ele é bom, não. Isso que eu disse. Eu não disse ‘ah, ele não presta, pode morrer’”, declarou.
Em outra gravação, Telmário Mota protesta ao dizer que o jornalista tentou associá-lo às investigações sobre desvios na saúde pública do Estado nos últimos dias.
Coincidência ou não, o senador do PROS é investigado na operação que tem como “carranca” o senador Chico Rodrigues (DEM-RR), flagrado pela Polícia Federal com R$ 33 mil escondidos na cueca.
“A semana inteira tentou induzir que participei de roubo na saúde. Aí vou ficar de hipocrisia? Para mim ele é um indivíduo mau caráter, bandido, deve estar sendo vítima das suas próprias palavras. Se de fato ele foi sequestrado que Deus tenha pena dele e salve a vida dele, mas não sou hipócrita”, disse Telmário, que nega as acusações.
Em outra gravação, o senador diz que Romano dos Anjos deve ser comparado a “bandido de favela” e que “ninguém tem pena”. Declaração desse naipe demonstra com enorme clareza o fato de Telmário Mota ser senador da República é um atentado à coerência, aos bons costumes e principalmente à visão social que o País exige das autoridades.
Telmário precisa ser avisado que o “bandido da favela” não ingressou na vida marginal por escolha própria, mas pela ausência e inoperância do Estado, do qual ele próprio é representante.
Além disso, a fala do senador nesse trecho da gravação é um inequívoco vilipendio à dignidade humana.
“Não vejo ninguém aqui se manifestar com pena de bandido que até matam. Qual é a diferença que todo dia fala mentira, calúnia e difamação”, questionou o parlamentar no áudio.
O senador do PROS reclama das “injustiças” praticadas pelo jornalista em algumas reportagens com menção a seu nome.
Se Telmário Mota discorda das acusações feitas pelo profissional de imprensa, que recorra à Justiça para provar sua alegada inocência e responsabilizar o jornalista por eventuais inverdades. Como membro do Legislativo, deveria saber que a lei aponta para esse caminho.
Escândalos, ameaças e agressões
O senador está acostumado a resolver problemas usando a força física, seja a própria ou de seus capangas, é preciso prudência ao analisar as declarações do senador que é conhecido como “valentão”.
Apenas a título de informação, além de ser parceiro de Chico Rodrigues na investigação da PF, Telmário é alvo de sete boletins de ocorrência por ameaça e agressão. O caso mais repugnante foi registrado na delegacia por uma jovem violentamente agredida pelo parlamentar.
Em julho de 2016, a então estudante universitária Maria Aparecida Nery de Melo, à época com 19 anos, procurou a Polícia Civil em Boa Vista para registrar boletim de ocorrência contra Telmário Mota, acusado de espancar a jovem com chutes e socos, que a levaram a desmaiar. A agressão aconteceu em 31 de dezembro de 2015 e foi motivada por ciúmes.
Maria Aparecida disse na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher que viveu maritalmente com Telmário por cerca de três anos e meio e estava “sofrendo ameaças de morte”. Exame de corpo de delito revelou “lesões na cabeça, boca, orelha esquerda, região dorsal, braço direito e joelho esquerdo”.
Não obstante, também em 2016, a médica Suzete Macedo de Oliveira, mulher do senador, se entregou à Polícia Federal (PF) por causa de condenação à prisão (seis anos e oito meses) em razão de seu envolvimento no esquema de desvio de verbas públicas que ficou conhecido como “Escândalo dos Gafanhotos”.
Em Roraima, quem conhece a política local afirma que Suzete foi envolvida no esquema criminoso pelo próprio Telmário Mota, que ao lado de parentes apareceu na lista de beneficiários dos desvios.
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