Pesticidas proibidos na União Europeia são detectados em frutas produzidas no Brasil.
Por Redação Ucho.Info/20 de maio de 2021.A organização ambiental Greenpeace mandou examinar amostras de frutas do Brasil comercializadas na Alemanha em busca de vestígios de agrotóxicos.
O alarmante resultado da análise consta de relatório divulgado na quarta-feira (19): de 70 vegetais testados, 59 acusaram a presença de 35 diferentes substâncias pesticidas, sendo 11 delas não permitidas na União Europeia.
Mangas, mamões, melões, figos e limões verdes comprados entre abril e maio em diversas partes da Alemanha foram submetidos a dois laboratórios independentes.
Dois terços das amostras continham resíduos de mais de um pesticida, com um mamão chegando a apresentar nove tipos diferentes.
Em quatro casos os níveis ultrapassavam os limites permitidos.
Mais da metade das substâncias detectadas, 21 de 35, pertencem ao grupo dos pesticidas classificados como altamente perigosos para a saúde e o meio ambiente (HHP, na sigla em inglês).
Entre as substâncias detectadas que não são permitidas na União Europeia estão os inseticidas Imidacloprid e Chlorfenapyr, fabricadas pelas alemãs Bayer e Basf.
No total, a Bayer fabrica 12 dos agrotóxicos encontrados, e a Basf, sete.
“Também as gigantes alemãs da química prejudicam seres humanos, animais e a natureza no Brasil. Um ciclo tóxico, pois, por sua vez, os vegetais contaminados vão parar na nossa salada de frutas na Alemanha”, criticou Jürgen Knirsch, especialista em comércio da Greenpeace, citado pelo jornal “Süddeutsche Zeitung”.
O relatório do Greenpeace destaca que o Brasil é o terceiro maior consumidor de pesticidas do mundo e utiliza muitas substâncias que não são permitidas na UE.
Em 2019, 44% das substâncias aprovadas no Brasil não eram liberadas na UE.
Além disso, 70% dos pesticidas usados no Brasil são classificados como altamente perigosos.
“Em abril de 2021, 3.231 pesticidas eram aprovados no Brasil. O governo Bolsonaro emitiu o recorde de 1.172 autorizações em apenas 845 dias de governo, sendo responsável por 36% de todos os pesticidas que podem ser comercializados legalmente no Brasil”, diz o texto.
O achado é especialmente explosivo no contexto do planejado acordo de livre comércio UE-Mercosul.
Com ele, o Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai esperam obter melhores chances para seus produtos agrários nos mercados da Europa, enquanto os Estados-membros da UE contam exportar mais pesticidas, automóveis e outras mercadorias.
O Greenpeace reivindica uma suspensão do acordo, sobre o qual os ministros europeus do Comércio deverão deliberar ainda nesta penúltima semana de maio, em Bruxelas.
O tratado UE-Mercosul é controverso: mesmo entre os governos europeus e no Parlamento Europeu encontra-se resistência veemente a ele.
Críticos acusam o governo brasileiro de promover o desmatamento na Amazônia, e que um acordo comercial poderia ainda agravar o problema.
O mesmo se aplicaria à venda de pesticidas para a América do Sul: segundo o Greenpeace, em 2019 foi exportado um volume de pelo menos 915 bilhões de euros para os países do Mercosul.
Depois do Reino Unido e da França, a Alemanha é a terceira maior exportadora do setor para a região: em 2020, cerca de 12% dos agrotóxicos permitidos no Brasil foram vendidos pela Bayer e a Basf. O Greenpeace condena a “dupla moral alemã”.
“Mais de dois terços das substâncias vendidas por firmas alemãs no Brasil são classificadas como pesticidas altamente perigosos”, diz Knirsch. Diversos deles estão proibidos na UE, “apesar disso, a Alemanha permite a exportação de pesticidas tóxicos para o Brasil, e os conglomerados químicos alemães lucram com isso”.
As fabricantes se defenderam das acusações: segundo um porta-voz, “já desde 2012, a Bayer não vende mais agrotóxicos classificados como altamente tóxicos pela Organização Mundial de Saúde”.
Tanto ela quanto a Basf ofereceriam há anos, em todo o mundo, cursos para que os agricultores empreguem os pesticidas devidamente.
Segundo o jornal “Süddeutsche Zeitung”, uma representante da Basf declarou: “A segurança dos gêneros alimentícios é essencial para nós. Confiamos nas autoridades e nos sistemas de monitoramento de alimentos para examinarem e assegurarem a disponibilidade de produtos seguros e saudáveis.”
(Com agências internacionais)
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