quarta-feira, 25 de agosto de 2021

O GRUPO PRERROGATIVAS E A COLUNISTA CATARINA ROCHAMONTE

A colunista e os dois demônios que lhe tiram o sono.

O grande Norberto Bobbio dizia que a lição número um de um cientista é não comparar ovos com caixa de ovos. Sempre dá errado. Outra lição vem do grande Wittgenstein (muito lido em faculdades de filosofia), que dizia: sobre o que não se tem competência para falar, deve-se calar.
Essas duas lições parecem não terem sido captadas pela colunista e filósofa Catarina Rochamonte, autoproclamada liberal-conservadora (sic).
Em artigo na Folha, usa a prisão de Roberto Jefferson para atacar Lula. Sim. Diz que gritar pela liberdade de Bob Jeff é o mesmo que gritar Lula livre. Eis aí: ovos e caixa de ovos. Como filósofa, deveria saber sobre a tese dos dois demônios, raso truque retórico pelo qual, se tenho que, inexoravelmente, criticar um amigo (ou ex-amigo, porque Rochamonte é bolsonarista arrependida), tenho de, ao mesmo tempo, esculhambar um inimigo, arrastando-o para o mesmo terreno da infâmia. Nota zero na aula sobre sofismas.
Como filósofa, por certo ela não diria que Platão é um autor da modernidade ou do medievo. Tiraria zero. Pois então como pode, sem saber nada de direito, repetir pérolas como “que o STF comete abusos, isso é público e notório. O maior deles, diga-se de passagem, foi ter declarado suspeito o ex-juiz Sergio Moro a fim de garantir a elegibilidade de Lula”. Então, para ela, declarar um juiz que criminosamente faz arapongagem de advogados e outros ilícitos não é parcial? Declarar essa suspeição é abuso? Público e notório, colunista ?
Chumbou na prova. Claro. São coisas do direito que quem não é da área não entende um ovo. Nós também não palpitaríamos sobre operação cardíaca. Ou sobre física quântica. A filósofa-colunista é negacionista do direito. Negar a suspeição de Moro é como dizer que Barnard não fez o primeiro transplante cardíaco. E que cloroquina cura Covid. Essa comparação é pertinente, porque o cerne é o negacionismo. Ou a ignorância.
É feio uma colunista dizer que a profissão de advogado serve para defender “abusos com unhas dentes” (sic) e que advogados quiseram fazer prevalecer “narrativa torpe”. Sabe a colunista que, em uma democracia, quem diz o direito por último é a Suprema Corte? Ah, não gostou? Que coisa, não? Bob Jeff também não gosta. Todos os bolsonaristas e os lavajatistas não gostam do STF. Logo, por qual razão Rochamonte estaria de acordo com o uso de garantais processuais, coisa que qualquer aluno da faculdade UniZero sabe?
Rochamonte, ao pretender criticar o Grupo Prerrogativas e o ex-Presidente Lula e, ao mesmo tempo, elogiar a Lava Jato, esqueceu de olhar o dicionário. Afinal, ela fala em sanha persecutória. Que quer dizer ódio, rancor, fúria, ira, desejo de vingança. Na mosca. A lava jato foi isso mesmo. Um rancor, uma fúria, uma ira e o desejo de vingança.
Uma operação criminosa a serviço de um projeto eleitoral que tirou do último pleito aquele que era o franco favorito para vencê-lo.
Uma operação que mergulhou nosso sistema de justiça em uma crise sem precedentes, levando a um cárcere político um réu sabidamente inocente por mais de 580 longos dias.
Portanto, numa palavra final, patético não é gritar Lula livre – afinal, ficou provado que lula foi vítima de uma sanha persecutória. E não o contrário. Patético é comparar a aplicação de garantias processuais, só ignoradas por quem não sabe nada de direito (jusnegacionistas), com a delinquência de um celerado como Roberto Jefferson.
O Supremo merece nosso reconhecimento e o nosso aplauso.
Tem agido com absoluta correção na defesa da Democracia e das instituições.
Desconhecer este papel é fruto de má-fé ou de profunda falta de informação e conhecimento.
A tese dos dois demônios realmente é muito rasa. Esperamos mais criatividade. Há por aí bons cursos de retórica.
Fica a dica.

Lenio Streck, jurista e professor
Marco Aurélio de Carvalho, advogado
Fabiano Silva dos Santos, professor e advogado
Coordenadores do Grupo Prerrogativas

Nenhum comentário: