sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

"MARIA E O MAR"
























Na tarde em que Maria partiu, levou consigo as esperanças que acabavam de nascer no peito daquele menino.
Há muito tempo, ele não sabia o valor de uma amizade, de um sorriso, de um reconhecimento.
Desde que Maria chegou naquela vila, o sol brilhava mais forte, o trabalho no corte de cana não pesava tanto e todo o mundo tingia-se de cores deliciosas.
O menino estava feliz como jamais estivera na vida.
- Maria, mas por que você quer morar no meio do mar? É tudo tão escuro dentro da água!
- Não que eu ame o mar, meu querido. Um dia, o mar levou meu primeiro filho, perdi meu esposo para o mar, minha mãe afogou-se nele, porque não sabia nadar...
- E você, Maria, sabe nadar?
- Não.
- Então, eu lhe ensino, tá, Maria? Eu sei nadar.
E então, quantas vezes o menino pegava Maria pelo braço e a levava de volta para a vila onde moravam!
O último domingo chegou com chuva e trovoadas. 
Parecia que a casa do menino desabaria. 
A avó preocupada. 
Mas no pensamento do menino, de repente, só brotava um nome:
- Maria! Vó do céu! Vou ver a Maria. Vou e volto correndo. Depois eu tomo um banho quentinho.
Silêncio na casa de Maria.
Um bilhete na porta quase apagado pela ventania que jogava a chuva para dentro da varanda.
- Meu amigo, não se preocupe comigo. Fui para o mar.
De volta para casa, o menino chorou:
- Vó, tenho um pressentimento que não vou mais ver a Maria. Ela foi para o mar.
- Não há o que fazer, filho! Com essa tempestade! É melhor a gente dormir. Vai ver que ela se escondeu nalguma cabana de pescador, né?
...
O relógio marcava sete horas. O sol voltou a brilhar. Brilhava ainda uma esperança no coraçãozinho do menino.
Foi para o mar.
Nada...
Nada...
Nada... 
Dois dias depois, o corpo de Maria foi localizado entre as pedras. 
O menino viu um sorriso no rosto dela e ficou aliviado.
- Vó, acho que ela encontrou seus entes queridos.

- De minha autoria.

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