Título: O homem que ama Roberto Jefferson
Autor: Leonardo Filipo
Fonte: Jornal do Brasil, 14/08/2005, País, p. A5
No fim da manhã de terça-feira, um senhor gorducho, de suéter de lã e boina na cabeça, no melhor estilo bonachão, falava ao telefone da sede do PTB de Petrópolis, região Serrana do Rio. Ao fim da conversa, atendeu dois homens que pediam adesivos com a inscrição ''Eu acredito em Roberto Jefferson''. Também queriam camisetas com a mesma frase, mas o estoque havia terminado. De uma sala adornada com retratos cujo maior destaque é Getúlio Vargas, ele avisa: a pedido de seu filho, não vai falar de política.
O professor aposentado Roberto Francisco é pai do deputado Roberto Jefferson, o homem que detonou a maior crise do governo Lula. Uma crise que parece não ter fim, como amor de pai para filho. O descendente de libaneses de 75 anos prefere comentar a expectativa para o almoço deste domingo, Dia dos Pais, quando espera em sua casa os sete filhos, 22 netos e oito bisnetos. Geralmente, nesta data, é presenteado com livros e vinhos. Ano passado, ganhou do filho mais polêmico uma garrafa de vinho gaúcho.
- A presença deles é o melhor presente - garante.
Nas reuniões familiares, o professor declama trovas e poesias. Presidente da União dos Trovadores de Petrópolis, Francisco organiza todo ano concursos de âmbito nacional. As festas inspiraram Jefferson a extravasar suas emoções através do canto, prática aprovada pelo pai, que se incomodava com o ''troglodita Jefferson''. Naquela fase pré - redução do estômago, o ex-integrante do programa policial O povo na TV andava armado e praticava tiro ao alvo.
Apesar da escolha profissional de Jefferson ter sido natural - pai e avô foram vereadores pelo PTB - Francisco queria ver o segundo filho mais velho seguindo seus passos acadêmicos:
- Montei uma escola em Petrópolis e queria que ele prosseguisse. Ele chegou a dar aulas de direito criminal na Estácio de Sá, mas acabou seguindo a carreira política. E se deu bem.
Aos poucos, o professor começa a falar de política. Após longa explanação sobre kardecismo, extravasa quando afirma que a religião tem servido de amparo nos últimos tempos:
- Enfrento o problema atual com tranquilidade. Aprendi a me controlar, a aceitar as coisas depois de compreendê-las. Nada acontece por acaso.
Francisco conseguiu converter alguns filhos. Jefferson não quis.
- O espírito dele é forte - justifica.
Para o ex-professor, o incômodo do PT com o crescimento do PTB foi o embrião da crise. O partido de Lula estaria planejando o enfraquecimento dos aliados para, então, converter alguns deputados e ajudar a fomentar o processo da reeleição:
- Quando você é presidente de um partido, precisa de poder para ampliá-lo. O PTB teve o comando de alguns órgãos, mas seus diretores eram do PT. Se você tinha um projeto, era barrado. Aí o presidente do partido ia tentar resolver o problema com o presidente, que transferia para seu ministro principal.
O pai de Jefferson cita o episódio em que o diretor dos Correios, Maurício Marinho, pede propina para empresas e cita seu filho como captador de um esquema de arrecadação de recursos para o partido. Quando o caso veio à tona e detonou a crise, o deputado não teve dúvidas de quem estava por trás.
- Era coisa do José Dirceu. Roberto ligou para ele, que estava no aeroporto, dizendo que ia viajar preocupado com o Delúbio Soares e com o Sílvio Pereira. Ele queria destruir a imagem do meu filho, jogar toda a culpa no PTB. Roberto disse: 'Ah, vai viajar? Então quando você voltar vai encontrar a situação invertida'. Nos 15 primeiros dias, ele foi massacrado pela imprensa enquanto o Dirceu estava viajando.
Francisco entende que o fato do filho ter feito as denúncias o redime de seus erros.
- Se meu filho me chamar, estarei na frente de batalha ao lado dele. Estou feliz porque ele está mostrando ao país que é hora de se fazer uma mudança. Como diz o velho ditado do interior, brigam as comadres, descobrem-se as verdades. Então elas estão vindo à tona, mesmo que sejam contra o Roberto. Porque ele aprendeu nos livros do pai que ''abençoado é o que está com a verdade contra a opinião, e não o que está com a opinião contra a verdade''. Há muito o que jogar no ventilador.
Jefferson sobreviveu ao governo Collor, quando foi líder da tropa de choque do ex-presidente. Desta vez, após novo mar de lama, o pai aposta que o filho, desiludido, vai largar a política. No fim da conversa, no velho estilo bonachão, faz mais uma provocação a José Dirceu, baseado no resultado de uma pesquisa que apontou o presidente americano George Bush e o primeiro-ministro inglês Tony Blair como as pessoas mais mentirosas do mundo.
- José Dirceu só não foi eleito o maior mentiroso do mundo por causa da guerra do Iraque.
Autor: Leonardo Filipo
Fonte: Jornal do Brasil, 14/08/2005, País, p. A5
No fim da manhã de terça-feira, um senhor gorducho, de suéter de lã e boina na cabeça, no melhor estilo bonachão, falava ao telefone da sede do PTB de Petrópolis, região Serrana do Rio. Ao fim da conversa, atendeu dois homens que pediam adesivos com a inscrição ''Eu acredito em Roberto Jefferson''. Também queriam camisetas com a mesma frase, mas o estoque havia terminado. De uma sala adornada com retratos cujo maior destaque é Getúlio Vargas, ele avisa: a pedido de seu filho, não vai falar de política.
O professor aposentado Roberto Francisco é pai do deputado Roberto Jefferson, o homem que detonou a maior crise do governo Lula. Uma crise que parece não ter fim, como amor de pai para filho. O descendente de libaneses de 75 anos prefere comentar a expectativa para o almoço deste domingo, Dia dos Pais, quando espera em sua casa os sete filhos, 22 netos e oito bisnetos. Geralmente, nesta data, é presenteado com livros e vinhos. Ano passado, ganhou do filho mais polêmico uma garrafa de vinho gaúcho.
- A presença deles é o melhor presente - garante.
Nas reuniões familiares, o professor declama trovas e poesias. Presidente da União dos Trovadores de Petrópolis, Francisco organiza todo ano concursos de âmbito nacional. As festas inspiraram Jefferson a extravasar suas emoções através do canto, prática aprovada pelo pai, que se incomodava com o ''troglodita Jefferson''. Naquela fase pré - redução do estômago, o ex-integrante do programa policial O povo na TV andava armado e praticava tiro ao alvo.
Apesar da escolha profissional de Jefferson ter sido natural - pai e avô foram vereadores pelo PTB - Francisco queria ver o segundo filho mais velho seguindo seus passos acadêmicos:
- Montei uma escola em Petrópolis e queria que ele prosseguisse. Ele chegou a dar aulas de direito criminal na Estácio de Sá, mas acabou seguindo a carreira política. E se deu bem.
Aos poucos, o professor começa a falar de política. Após longa explanação sobre kardecismo, extravasa quando afirma que a religião tem servido de amparo nos últimos tempos:
- Enfrento o problema atual com tranquilidade. Aprendi a me controlar, a aceitar as coisas depois de compreendê-las. Nada acontece por acaso.
Francisco conseguiu converter alguns filhos. Jefferson não quis.
- O espírito dele é forte - justifica.
Para o ex-professor, o incômodo do PT com o crescimento do PTB foi o embrião da crise. O partido de Lula estaria planejando o enfraquecimento dos aliados para, então, converter alguns deputados e ajudar a fomentar o processo da reeleição:
- Quando você é presidente de um partido, precisa de poder para ampliá-lo. O PTB teve o comando de alguns órgãos, mas seus diretores eram do PT. Se você tinha um projeto, era barrado. Aí o presidente do partido ia tentar resolver o problema com o presidente, que transferia para seu ministro principal.
O pai de Jefferson cita o episódio em que o diretor dos Correios, Maurício Marinho, pede propina para empresas e cita seu filho como captador de um esquema de arrecadação de recursos para o partido. Quando o caso veio à tona e detonou a crise, o deputado não teve dúvidas de quem estava por trás.
- Era coisa do José Dirceu. Roberto ligou para ele, que estava no aeroporto, dizendo que ia viajar preocupado com o Delúbio Soares e com o Sílvio Pereira. Ele queria destruir a imagem do meu filho, jogar toda a culpa no PTB. Roberto disse: 'Ah, vai viajar? Então quando você voltar vai encontrar a situação invertida'. Nos 15 primeiros dias, ele foi massacrado pela imprensa enquanto o Dirceu estava viajando.
Francisco entende que o fato do filho ter feito as denúncias o redime de seus erros.
- Se meu filho me chamar, estarei na frente de batalha ao lado dele. Estou feliz porque ele está mostrando ao país que é hora de se fazer uma mudança. Como diz o velho ditado do interior, brigam as comadres, descobrem-se as verdades. Então elas estão vindo à tona, mesmo que sejam contra o Roberto. Porque ele aprendeu nos livros do pai que ''abençoado é o que está com a verdade contra a opinião, e não o que está com a opinião contra a verdade''. Há muito o que jogar no ventilador.
Jefferson sobreviveu ao governo Collor, quando foi líder da tropa de choque do ex-presidente. Desta vez, após novo mar de lama, o pai aposta que o filho, desiludido, vai largar a política. No fim da conversa, no velho estilo bonachão, faz mais uma provocação a José Dirceu, baseado no resultado de uma pesquisa que apontou o presidente americano George Bush e o primeiro-ministro inglês Tony Blair como as pessoas mais mentirosas do mundo.
- José Dirceu só não foi eleito o maior mentiroso do mundo por causa da guerra do Iraque.
Meu Pai, Dr. Roberto Francisco, foi o único que conheci que discursava em versos. Grande homem, se despediu de nós hoje. Fica com Deus, Pai.
No Twitter de Jefferson hoje.
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