sexta-feira, 16 de junho de 2017

HOMENAGEM PÓSTUMA AO MEU QUERIDO E INESQUECÍVEL AMIGO EDSON DE CAMARGO RODRIGUES, CARINHOSAMENTE CONHECIDO POR “UNA”

Primeiramente, conheci o Sr. Joaquim Ignacio Rodrigues Junior, carinhosamente conhecido por “Quinzote”, que era amigo de meu Pai então um próspero Comerciante.
O Sr. Joaquim era Tabelião do Cartório de Registro Civil e Anexos.
E certa feita, a pedido de meu Pai ele convidou-me para ir em seu Cartório ás 19h e ali começou o meu treinamento de datilografia, sendo que Ele colocou um manual ao lado da máquina, tapou as teclas e começou a me ensinar: “A, S, D ...”
Todos os dias, no mesmo horário, Ele abria o Cartório para o meu treinamento, sempre de segunda até quinta, pois na sexta-feira ele colocava o seu Guarda-Pó Branco para tomar o ônibus até Ibiúna.
Assim foi por algum tempo, até que Ele trouxe a Família para São Miguel.
Eu ensinei o Edson e seu irmão Carlos Franklin a reconhecerem firmas e autenticarem documentos.
Antes da Família morarem em São Miguel Arcanjo, o Sr. Joaquim ia todas as sextas para Ibiúna ás 15h e os casamentos eram feitos somente aos sábados.
No sábado, eu abria o Cartório e logo chegavam os Juízes de Paz Srs. Alcindo Nogueira e Joaquim Ortiz de Camargo para celebrarem os Casamentos e eu que lia o Termo contido no Livro de Casamento.
O Sr. Joaquim deixava assinado em branco várias certidões de nascimento e de óbito e naquela época os Cartórios possuíam os Livros Talões.
Eu registrei muitas crianças e muitos óbitos nesses Livros Talões.
Nós éramos muito jovens e o ano era de 1963, nós tínhamos 16 anos apenas, pois tínhamos a mesma idade, diferença de poucos meses.
Naquela época eu pedia as bênçãos de meus Pais para ir a Escola, mas não ia, ia jogar sinuca no Bar do José Dias e lá pelo meio dia voltava para casa para almoçar como se nada tivesse acontecido.
E quem eu encontrava em minha cama dormindo? O “Una”.
Nós éramos muito unidos em tudo e assistimos no Cine Teatro São Miguel o filme “Juventude Transviada”, estrelado pelo Ator James Dean e seu companheiro coadjuvante Sal Mineo.
Quando soube de seu falecimento, através de seu cunhado Mauro Camargo entrei em prantos convulsos e muitas lágrimas banharam meu rosto.
Devo lembrar que o apelido “Una” foi dado pelo Netão do Lauro, meu grande amigo até os dias de hoje.
A Mãe do “Una”, Sra. Maria Camargo tinha muita estima por minha pessoa e revelou-me um segredo de família: o “Una” e seu irmão Carlos Franklin tiveram uma irmãzinha que se chamava Cidinha que estudava em um Colégio em regime de Internato em São Paulo, mas passava as férias em Ibiúna.
Em uma de suas férias na cidade de Ibiúna, ao atravessar uma rua sofreu um acidente e veio a falecer. Não sei exatamente quantos anos a Cidinha tinha.
Meu querido e inesquecível amigo Edson de Camargo Rodrigues, carinhosamente conhecido por “Una”, essa é a homenagem que posso lhe fazer republicano a crônica escrita pelo meu amigo Ari Leme Pinheiro, notável Jornalista e Advogado, Mestre em manipular o Vernáculo, para que todos conheçam essa minha convivência que eu tive muitos anos com o “Una”.

Una e João do Joaquinzinho
Ary leme Pinheiro.

Bem disse o Chico: “quem jamais esquece não pode reconhecer...”
Quem observar aos pés de um documento a rubrica sobre um carimbo notarial o nome Edson de Camargo Rodrigues, dificilmente vai associá-lo ao apelido “Una”, que e em menino o homem sério herdou do gentílico referente ao nome primitivo da sua cidade natal, Ibiúna. Também os que tomarem ciência de uma sentença prolatada pelo MM. Juiz de Direito João de Oliveira Rodrigues, dificilmente ligarão essa rubrica aquele menino inquieto, o “baixinho elétrico”, bom de bola, bom de fala.
Desde a nossa juventude os dois tinham mais coisas em comum do que pode supor a nossa vã filosofia, para citarmos nosso compadre Sheaks, plagiando meu amigo Quinzote, o austero Joaquim Ignásio Rodrigues Júnior, o “Joaquim do Cartório”.
Verdade, os pais deles se chamavam Joaquim, homônimos do pai da Virgem Maria. O Una é filho do Quinzote retro referido; o Joãozinho é filho do conceituado comerciante que todo Município conheceu como “Joaquim Rafaié”, por isso seu filho é chamado por Joãozinho do Joaquinzinho.
Quem hoje os vê madurões comportados, cidadãos ilustres, não os associam, aqueles endiabrados garotos do ginásio, o pesadelo do Wilson Muscari. O tico Medeiros os chamavam de “dupla infernal”, a dona Angelina do Narlir, tia do Eiso e do Nailinho, não acreditava em princípio que aqueles dois filhos de tão distintas famílias, pudessem ter aquelas manifestações de “marginaizinhos irrecuperáveis”; a dona Nina do Fausto, mãe da Ebe, não queria nem pensar que aqueles dois eram autores de tão denegrante façanha que os encaminhava para um triste destino.
Lembro-me ainda com detalhes de tinta fresca. Era um começo de junho de frio. Havia um mês que eu treinava um grupo de trinta pares para dançar a tradicional quadrilha nos salões do “Bernardes Júnior” no dia de Santo Antônio. Aquele era o último dia de ensaio, que fazíamos no quintal do João Araújo. De lá voltava cu para casa, por volta da dez e meia da noite, meio enrodilhado na minha capa preta de procedência europeia, herança do meu avô, quando topei com a “dupla Infernal” sentada na mureta do velho “Gomide de Castro”, vetusto casarão que emprestava algumas de suas salas para o funcionamento do ginásio em seus primeiros anos sem sede própria.
Parei ali e fiquei conversando com o Una e o Joãozinho do Joaquinzinho. Eram meus amigos de recíproca verdadeira. Acho que ainda são meus amigos de recíproca verdadeira. Quando tinham um trabalho escolar qualquer, como a absoluta maioria dos estudantes da minha época, levavam-no para que eu o fizesse. Confiavam no meu taco e na minha caneta. Nunca se esqueceram de levar de presente um litro de Martinho- Branco, do qual eles sempre bebiam a maior parte dele. Acho que estiquei a conversa por cerca de uma hora e só dei pela tardança quando chegou o Luizinho Alvarenga. Lembrei-me que me levantava cedo para tomar o ônibus, que nos levava ás escolas de Itapetininga, onde fazíamos o curso médio. Em momento algum a dupla se traiu, deixando transparecer o que estava tramando.
No sábado, a surpresa. Preparei-me como pude para não disfarçar o meu natural para o baile caipira e fui para o clube. A festa era das senhoras da elite lideradas pela dona Nina (Adelina Prandini Ribas) que até aquela data parecia gostar de mim. A renda foi um benefício das obras sociais do grupo, principalmente do Clube do Engraxate Mirim. Minha paterner na quadrilha era a Sônia Terra, hoje esposa do meu amigo Walter do Leopoldo Marques. Como dançava bem a Soninha! Foi ela quem me deu a triste notícia: a apresentação da quadrilha estava suspensa, cancelada por minha causa. Compondo um trio com a dupla infernal, teríamos entrado no ginásio aquela noite e revirado documentos, quebrado a talha d’água, sujando o banheiro e escrito frases desrespeitosas sobre a dona Angelina. O que nunca foi do meu feitio. Se for defeito, assumo com orgulho: jamais falei mal de alguém ausente e nunca mandei recado. É olho no olho ou eu escrevo e assino em baixo.
Não me adiantou negar qualquer participação no fato. Eu fora visto com os dois e não tinha nenhum álibi. A suspeita recaía sobre mim e isso era bom para aquelas senhoras que não acreditavam que os dois meninos de boas famílias eram os autores, até que confessos. Por toda lei tinha de ser eu o mentor daquela bagunça, o desencaminhador da dupla. E naquele ano eu não marquei a velha quadrilha que aprendi com o Paulinho Brisola, tão exaustivamente ensaiada ao som da sanfona do “Zé Compadre”, artista orgulhoso dos Medeiros. Não marquei mais quadrilha nenhuma depois daquela passagem.
Demostrando já naquele tempo extraordinária hombridade e senso de Justiça, os dois contaram a verdade. E a verdade me inocentou. Mas as senhoras das obras sociais, que quase me crucificaram, nunca me pediram desculpas: Talvez não me tivessem perdoado por não ter participado. Mas eu as perdoei...
O Una eu continuei vendo regularmente e tomando uns “gorós” com ele de quando em quando. Até fui com a criançada comer um arroz com suã na sua pousada, nos perímetros da Reserva Carlos Botelho. Do Joãozinho só sabia pelo Una ou pelo Miguel França. Por mais de trinta anos persegui um encontro que não aconteceu nas ruas de nossa velha Terrinha. Na semana passada, no entanto, tive uma grata surpresa. Soube que ele descobriu (porque procurou) o telefone do meu filho Júnior para saber do meu. Coincidentemente eu estava na velha São Miguel Arcanjo alimentando a saudade. Ele descobriu também o telefone do meu irmão Orlando, com quem me deixou o seu endereço. Liguei para ele com indisfarçável saudade. Um encontro como este é como reencontrar a própria juventude pelo milagre do Grahn Bell. Nossa conversa foi uma cascata de saudade alimentada por doces lembranças de uma juventude que se não foi pródiga de bens materiais, foi imensamente rica de sonhos que nos impulsionaram a superar obstáculos e transformá-los em realidade com as graças do Grande Arquiteto do Universo.
 
João de Oliveira Rodrigues, do jeitinho que está no face.

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