Nelson Piquet zombava da feiura da esposa de Nigel Mansell. Misoginia pura.
Questionava a sexualidade de Ayrton Senna.
Homofobia.
Tratava mal quem não gostava, conforme o juízo de valor dele. Jornalistas humilhados, alguns concorrentes destratados. Muitas vezes, só a grosseria ou o politicamente incorreto. Isso eram os anos 1980.
Havia naquele modo de ser a aparência de um anti-heroi.
O cara que fez a si mesmo. Corria escondido do pai ex-Ministro da Saúde, que preferia que ele fosse virar tenista nos EUA.
Sim, Piquet era um filhinho de papai. Mas contrariou o papai, e foi sujar a mão de graxa. Virou piloto dos bons. Buscou os contatos certos, ralou como poucos. E com talento, conhecimento e arrojo, chegou lá.
Só que tinha um Senna no meio do caminho, com esquema de Marketing, e apoio da mídia. Cara de bom moço, e toda aquela pompa, apesar de seu comportamento questionável nas pistas. Senna foi campeão três vezes, com apoio da Globo, ficou com a imagem de herói, mesmo sendo, na verdade, um ídolo. E morreu com essa aura, ao vivo, em cores, pilotando. Piquet, ressentido, resolveu transformar rivalidade em inimizade. Não que Senna fosse melhor. Ele também contribuiu para isso. Piquet, o tricampeão, sem a Globo, com as suas traquinagens, com o seu "politicamente incorreto", virou gênio da raça. As pessoas achavam que era "franqueza".
Não. Nunca foi franqueza. Sempre foi um modo de ser na vida. Playboy mal acostumado. Papai ministro queria filhinho campeão de Tênis do US Open. Filhinho mimado queria ser campeão da Fórmula 1. Só que o mimadinho resolveu ir à luta. E aí, descobriu que é branco, hétero, filho de gente poderosa. E é ele contra o mundo. O modo de ser de Piquet é o da anti-solidariedade. Ele não suporta viver no modo coletivo. O "cada um por si" o atrai, é claro, desde que ele esteja por cima.
Quando alguém como Senna, Hamilton ou qualquer outro chega e toma o espaço dele, fica ressentido. Ele poderia ser rival de Ayrton e discordar das atitudes do oponente. No entanto, resolveu transformar a questão em uma contenda nacional, para desmascarar uma espécie de farsa do "bom moço".
Na verdade, Piquet como Senna são filhos da mesma classe dominante brasileira. Por isso Piquet nunca o suportou: era briga de semelhantes.
No caso de Hamilton, Piquet tem mais ressentimento ainda. Porque Hamilton foi alguém de fora do clubinho que se intrometeu lá dentro.
Por isso, Piquet se refere a ele como "neguinho".
Verstappen é do clubinho dessa turma. Um clubinho de gente branca, hétero e privilegiada. Um bando de babacas.
E quando ele detonava o Rubinho, não é porque o cara era um "perdedor". Mas sim por conta de um patrocinador comum a ambos: a tal da Arisco que Barrichello encerrou o vínculo, e de uma opção que o Rubinho por preferir não ser piloto de teste de uma equipe grande, e ser titular de uma média. Ou seja: tomou para o pessoal uma questão de negócios.
Quaisquer que fossem as atitudes de Barrichello, muitas delas lamentáveis, e outras realmente ruins para a carreira dele, Piquet só agia por maldade mesmo.
Quem apoia o Capiroto da forma como ele o faz, apenas explicita um modo de ser. Aquela pessoa que tem orgulho de pisar em quem encontra pela frente. Ele é um monstro em pessoa? Não para os amigos. A concepção dele é essa: de quem ele gosta, será sempre leal e companheiro. Mas veja como ele trata quem ele se desentende: descartando, e depois pisando. E sabendo de todos os pontos bons e maus, ele começa a difundir os defeitos de quem descarta. Dos amigos, apenas ressalta as qualidades. A panelinha dele o mitifica como um ícone, quando na verdade, nunca passou de uma pessoa reles. Claro, um tricampeão de Fórmula 1. Dentro das pistas. Fora, ele é mais um desses tiozões sem escrúpulos, nem princípios que contaminam o país.
Piquet é o típico indivíduo padrão que Hobbes chamaria de "lobo do homem". O atacar pelas costas não é a sua principal arma. Faz pela frente mesmo.
Pode ser afetuoso, cordial, capaz inclusive de grandes gestos. Mas é selvagem. Basta se desentender com a pessoa. Dará o bote, e poderá ser violento. No caso, usando de sua língua venenosa. Como todo Minion.
Muita gente pensa que isso é "franqueza". Eu sempre achei isso falta de caráter. Porque, na civilidade, o desentendimento ou é resolvido entre os pares de forma racional/olho no olho, ou pelo rompimento das relações/consequente afastamento/resolução discreta das diferenças, ou pelas vias judiciais em segredo de Justiça.
Quem transforma uma diferença em motivo de violência, mesmo que apenas simbólica, e faz disso uma regra, é o ser mais vil que possa existir.
O fascismo é o exercício, por excelência, dessa violência.
E Piquet era fascista antes de as pessoas saberem que o fascismo poderia vingar no Brasil."
Nenhum comentário:
Postar um comentário