Cada fim de ano, arrumamos nossas gavetas, adquirimos lençóis novos, toalhas novas, novos enfeites coloridos para a nova árvore de Natal, colorimos desde a casa toda e até o quintal para aguardar as festas.
Festas fugazes, transitórias, efêmeras, com certeza, mas que bom organizarmos o "amigo secreto", a reza da meia noite, encomendarmos as carnes, os panetones, os vinhos espumantes, etc.
Nem que todos aqueles parentes que ficaram de vir não compareçam.
Porque todo final de ano jamais é igual ao anterior.
Uns partiram antes do combinado, outros se casaram, outros foram morar muito longe e não deu para vir, fulano ficou doente e não pode viajar, alguns brigaram entre si e não querem provocar um encontro pelo menos por enquanto, o sítio onde se fazia a festa não existe mais, não há mais graça depois que os genitores se foram, principalmente a mãe.
Acho que é por isso que o comércio se aproveita cada vez mais, pois a cada ano vamos perdendo nossos entes queridos e precisamos preencher o espaço deixado por eles de alguma forma.
E então ousa fazer de tudo para apagar da nossa memória aquilo que realmente a data deve representar.
A vida é assim mesmo.
Como dizem, a vida é para os vivos.
Quanto à faxina anual, tem coisas que, por mais que tentemos, não conseguimos jogar para fora de nossa vida.
Eu, por exemplo, tenho um presépio que pertenceu a minha avó, Cirila, conhecida como Nhá Lila.
Quando nasci, ele já existia há muito tempo e ela geralmente o armava sobre o tampo de mármore da cristaleira que ficava na sala. Uma cristaleira que também guardava muitos doces em compota feitos por ela e os quais tinha hora certa para a gente degustar. Eram sublimes!
Nesse presépio tem até uma galinha com pintinhos e patinhos na lagoa.
Das peças, a vaquinha - tão linda que era! - não existe mais, pois esfarelou-se toda.
E a cada final de cada ano sempre chego a mesma conclusão: não posso jogar fora o presépio de minha avó.
Pelo menos por ora!
Fazer o que?
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