quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

"MARIA RUSSA"





Como viver assim? 


Até 1.795, a Lituânia esteve anexada à Polônia, em virtude do matrimônio do grão duque Sagellon com a rainha Ladwige, após o que o seu território foi entregue aos russos. Muitos resistiram a essa ‘russificação’ realizada pelo Czar Nicolau II, permanecendo fiéis a sua antiga língua, à realização católica e às tradições nacionais. Nessa luta, muitos lituanos foram enforcados e outros tantos deportados para a Sibéria. 
Durante a Primeira Guerra Mundial, a Lituânia foi ocupada pelos alemães. Derrotados os alemães, os lituanos viram seu país transformar-se num campo de batalha entre os exércitos prussiano, russo e polonês. Os soviéticos tomaram sua capital, Vilna, mas em 1.920 lha restituíram. Todavia, os poloneses conquistaram Vilna, pondo fim à amizade entre lituanos e poloneses. 
Em 1.926, ainda se tentou reorganizar o país: foi eleito Casimir Grinius, chefe do Partido Popular Camponês, para presidente da Nação. No entanto, foi derrubado no mesmo ano pelo regime autoritário de Augustinas Voldemaras. 
Como se pode viver assim, criar os filhos, sonhar com o futuro, tecer metas de vida? 

A Fuga 

Uma família, antes numerosa, decidiu fugir definitivamente dessa guerra. 
Era a família de Maria Dubickate Raskevicius e Raskevicius Petras, ou Pedro Raskevicius. 
Em busca de paz, decidiram pelo Brasil. 
Nessa opção, a esposa de Petras teve que abdicar a um sobrenome, pois não se permitia a alguém que pretendesse entrar no país possuir dois nomes estrangeiros. Resolvida essa questão, conseguiu a família viajar a bordo da embarcação Mosela. 
Foi a mais triste viagem de todos os tempos: o filho caçula acabou ficando doente e morreu em alto mar. Quando isso acontecia, o corpo era jogado para as águas. 
Cena pavorosa que o coração de uma mãe teve que carregar até o fim dos seus dias: cardumes e cardumes apareceram nas águas, levando para sempre o corpo do menino. 
Desembarcaram os Raskevicius no porto de Santos aos 19 de junho de 1.927, fixando residência em São Paulo.Tão logo isso aconteceu, mais um filho, o Brone, faleceu. 
Durante mais de dez anos moraram na Capital. 

Uma terra onde morrer 

Informados, certa vez, que o governo estava doando terras a quem quisesse trabalhar, vieram parar em São Miguel Arcanjo. 
Levados a morar na Reserva Florestal, hoje, Parque Estadual ‘Carlos Botelho’, estabeleceram-se como lavradores, além de trabalhadores do forno de carvão que lá existia. 
Ali, antes da ‘biquinha’, na antiga estrada, onde ainda existe um pé de pera plantado por Petras, é que moraram. 
Em plena escuridão da mata, quantos sacrifícios mais deveriam passar os Raskevicius! 
Alguns anos depois é que vieram para a cidade, onde Petras montou sua casa e seu ponto comercial para poder viver pacificamente e vender principalmente bananas de todas as qualidades e guloseimas. Pertinho do Grupo Escolar que o governo estadual se empenhara, anos atrás, em construir. 
Na casa de Maria e no seu quintal nunca deixaram de existir flores as mais diversas. Quem passava por ali parava para respirar o perfume delas e admirar o cuidado que Maria Russa nutria pela Flora brasileira. 
E o ciúme, então? Ai daquele menino que ousasse picar uma folha das suas roseiras ou uma só pétala de margaridas! 
Para Maria Russa, as flores sempre foram símbolo de liberdade e de alegria de viver. 
Quem algum dia folheou ou vier a folhear a revista TV Escola, edição especial de abril de 2.000, verá à página 32, a foto da família. 
Só que contaram que ela era polonesa e polonesa ela não era. Nem polonesa e nem russa, mas, sim, lituana. 
Uma lituana pertencente a uma família que foi totalmente adotada, ela, seu esposo e seus filhos: Helena, Ana e Antonio e os seus descendentes por todos os são-miguelenses. 
Os Raskevicius são gente que faz parte da história de São Miguel Arcanjo.
Abaixo, lembrança da missa de sétimo dia de Maria Raskevicius:




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