
Agora, porque será que Deus, ser onipotente, onividente, onipresente, precisaria por um arco colorido no céu para se lembrar da aliança que estava fazendo com a nova humanidade que estava criando a partir da família de Noé? Essa é uma informação que parece estar despregada no contexto da tese.
Que esse trecho tem claras conotações ideológicas parece não haver dúvidas. Mas porque o arco-íris? Porque Deus usaria uma ilusão de ótica - pois tal é o arco-íris - para se lembrar de um compromisso que Ele estava assumindo, como se fosse um marido esquecido que se esquece do aniversário da esposa?
É evidente que se trata aqui de um simbolismo que está conectado com antigas crenças solares, oriundas principalmente das religiões onde o sol era o símbolo da divindade. A ideia de que o arco-íris era um sinal dos deuses era uma crença comum a vários povos antigos, que nele viam uma manifestação da divindade na terra. Eles não tinham, evidentemente, a noção de que se tratava de um fenômeno natural provocado pela refração da luz do sol nas gotas de chuva, provocando um espectro de cores, pois essas descobertas só foram feitas no início do século XVIII, quando cientistas como Newton e Descartes estudaram o fenômeno e o descreveram em termos científicos.
Até então o arco- íris era considerado uma manifestação divina sobre a terra, e cada povo o associava a um elemento da sua tradição. Os gregos, por exemplo, diziam que ele era uma deusa chamada Íris, aquela que trazia as mensagens dos deuses para os homens; na mitologia dos vikings e dos povos nórdicos, ele era uma ponte entre a terra e o céu. Uma lenda irlandesa afirmava que era o reflexo do ouro escondido na terra pelos duendes; para os chineses, a luz do arco-íris provinha de uma abertura feita no céu por uma deusa chamada Nun Wa.
Assim, é possível imaginar que os cronistas bíblicos tenham escolhido o arco-íris para simbolizar a aliança entre Deus e a família que iria iniciar a genealogia do povo de Israel, com um “anel de luz”, já que o costume de formalizar alianças com um anel (um anel de ouro, como é ainda hoje no casamento), tenha parecido aos criativos rabinos de Israel a fórmula mais apropriada.
joão anatalino
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