Por: Reinaldo Azevedo
Francis, de 34 anos, era bombeiro hidráulico terceirizado na Vale e deixa uma filha de 4 anos. Foto pessoal.
Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, parece não ter ouvido a orientação do chefe — sobre não ser hora de achar culpados.
Ou, então, o chefe mudou de ideia.
Numa prova explícita de despreparo para o cargo, ou de má-fé previamente combinada com quem manda dele, Salles já está por aí a atribuir o desastre, ora vejam, ao PT.
Sim, o rompimento da barragem do Fundão, em Mariana, se deu sob o governo de Fernando Pimentel.
Este, agora, nos primeiros dias de janeiro, já ocorre na gestão de Romeu Zema.
O que um e outro poderiam fazer contra o desastre?
A estrutura estatal para fiscalização de barragens é ridícula. Na prática, são as próprias empresas que se encarregam da segurança.
A aprovação do rito sumário para a Vale aumentar sua produção na área se deu na gestão Pimentel, mas ele não está em curso.
O que ficou claro naquela reunião foi, sim, a falta de cuidado com que a questão ambiental é tratada no país.
O senhor Salles aproveita a tragédia para fazer proselitismo ideológico.
Afirma, por exemplo:
“Quando a esquerda vem com o discurso de descuido ambiental (da direita), eu não admito porque o que aconteceu em Brumadinho é consequência da visão deles”.
“Deles” quem?
O que há de “esquerdista” na legislação que o “direitista” Salles consertaria?
Ele tenta responder:
“Precisamos de objetividade e centralidade para fazer com que as coisas aconteçam de maneira efetiva. (Hoje), recursos humanos que deveriam estar focados nas questões de médio e alto risco estão sendo dispersos (em questões menores). Precisamos de legislação que funcione, licenciamento que funcione”.
Sabem o que isso quer dizer?
Nada! Ele nem tem ideia sobre o que está falando, e daí decorre essa maçaroca de abstrações como “objetividade”, “centralidade”, “questões de médio e alto risco”.
A verdade é que o atual governo chegou ao poder — e só por isto Salles foi nomeado —, partindo do pressuposto de que as questões ambientais atrapalham o desenvolvimento.
Ele é o grande arauto do autolicenciamento.
“Ah, mas isso é só para as questões envolvendo matas…”
É mesmo?
Por que não para a mineração?
A rigor, o controle das barragens é feito pelas próprias mineradoras. Até porque há mais de 24 mil barragens no país, 790 delas de rejeitos minerais, e apenas 154 funcionários para vistoriar tudo.
Salles deveria ser demitido por exploração política de um desastre ambiental e humanitário.
Continua aqui
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