domingo, 24 de fevereiro de 2019

BRASIL, UM SERVIÇAL DE TRUMP...

Por: Reinaldo Azevedo/
Publicada: 23/02/2019 - 20:59



Fronteira Brasil-Venezuela: caminhões brasileiros não foram descarregados, à diferença do afirma a Presidência da República (Foto: EFE/Joédson Alves)
Os gênios brasileiros que autorizaram o envio da “ajuda humanitária” à Venezuela — contra a opinião, entre outros, dos generais Augusto Heleno (GSI) e Santos Cruz (Secretaria de Governo) — subestimaram a fidelidade das Forças Armadas a Nicolás Maduro, o ditador daquele país. 
Não sei, e ninguém sabe, até quando será mantida. 
Torço para que se rompa logo, e, assim, vidas humanas serão poupadas. 
Agora, o Brasil tenta minimizar os efeitos de uma escolha errada.
Informa o Estadão:
Os dois caminhões com ajuda humanitária que estavam na fronteira do Brasil com a Venezuela neste sábado, 23, foram movidos para um local afastado da divisa dos dois países diante da possibilidade de tumultos na região. 
A decisão foi tomada horas depois de confrontos na cidade venezuelana de Santa Elena de Uairén entre manifestantes venezuelanos e Guarda Nacional Bolivariana (GNB) que deixaram ao menos dois mortos e mais de 30 feridos segundo relatos de deputados opositores e de uma ONG de defesa dos direitos humanos. 
Yuretzi Idrogo, deputada venezuelana exilada no Brasil, afirmou à agência EFE que a decisão de levar os caminhões carregados com alimentos e remédios de volta ao território brasileiro – ambos estavam algumas dezenas de metro dentro da Venezuela – foi uma “precaução para evitar possíveis conflitos”. 
A ideia é que essa ajuda entre pacificamente e sem nenhuma violência.
A retirada é, obviamente, uma decisão correta. Ou o Brasil ainda acabará se envolvendo em atos que podem ser considerados de guerra, uma vez que a fronteira está fechada por determinação do tirano venezuelano. 
Há quem ainda não tenha percebido o ponto: não se trata de apoiar Maduro, mas de não recorrer a métodos errados e contraproducentes para derrubá-lo.
Uma nota da Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência afirma, contra as evidências, o êxito da “ajuda humanitária”. 
Segundo a informação oficial, “a participação do governo brasileiro foi exitosa em reunir e transportar as doações até o destino de distribuição”. E ainda: “Inicia-se uma segunda fase da operação com os últimos preparativos de logística para a entrega dos produtos que se encontram armazenados na capital do Estado, Boa Vista”.
Ocorre que a ajuda não foi entregue. 
Informa o Estadão:
A reportagem do Estado, porém, viu que os caminhões ficaram apenas na linha de fronteira: uma rua com uma bandeira do Brasil e outra da Venezuela. 
Os caminhões ultrapassaram a linha e ficaram entre a bandeira do Brasil e da Venezuela. 
O local é considerado solo venezuelano, mas a linha fica, na verdade, a mais de 800 metros das barreiras militares da Venezuela.
Como se nota, a retirada dos dois caminhões e a mentira factual sobre o destino dos outros dois indicam que alguma coisa fugiu ao planejado.
Há quem faça questão de não entender a essência do problema, e pouco se pode fazer por quem opta pela burrice, com a devida vênia: o Brasil renunciou a um papel que era seu, que lhe cabia no ordenamento latino-americano, que era o da solução pacífica e da pressão diplomática em favor da queda de Maduro, e aderiu ao plano dos EUA, em associação com a Colômbia, que prevê o cerco humanitário a Maduro como substituto do cerco militar.
Sim, o bruto pode vir a cair.
Mas o prejuízo para a nossa diplomacia, para o nosso papel na crise e para o nosso protagonismo no subcontinente está dado. 
Por causa de um vagabundo como Maduro, o Brasil vai sair dessa história como mero serviçal de uma escolha feita pelos EUA. 
Sim, essa escolha foi feita pelo governo brasileiro, não pelo ditador.

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