Emmanuel Macron e outros líderes globais foram alvo do sistema de espionagem Pegasus.
Por Redação Ucho.Info/20 de julho de 2021O celular do presidente da França, Emmanuel Macron, e de mais uma dezena de altos políticos aparecem como possíveis alvos do sistema de espionagem Pegasus, segundo informações publicadas nesta terça-feira (20) pelos jornais “Le Monde”, “The Guardian” e “The Washington Post”.
Além de Macron, aparecem na lista de prováveis alvos os presidentes Cyril Ramaphosa (África do Sul) e Barham Salih (Iraque) e os primeiros-ministros Imram Khan (Paquistão), Saad-Eddine El Othmani (Marrocos), Mostafa Madbouly (Egito) e o rei Mohammed VI (Marrocos).
A lista ainda inclui ex-líderes do Líbano, Itália, Bélgica e Uganda.
No último domingo (18), um consórcio de jornais e organizações liderado pelo projeto francês Forbidden Stories revelou que os governos de vários países podem ter espionado 50 mil números de telefone de ativistas, jornalistas e políticos usando o software Pegasus, desenvolvido pela empresa israelense NSO Group.
Outros países que fizeram uso em larga escala da ferramenta incluem Arábia Saudita, Azerbaijão, Hungria e Índia.
No caso de Macron, ele teria sido espionado com auxílio da ferramenta Pegasus pelo governo do Marrocos, que teria espionado ainda o ex-primeiro-ministro Édouard Philippe e quatorze ministros franceses.
O governo francês ainda não se pronunciou.
Já a NSO negou a acusação e disse que Macron jamais foi um alvo de algum de seus clientes.
Já o jornal britânico “The Guardian” aponta que o Marrocos também espionou os telefones de Tedros Adhanom Ghebreyesus, secretário-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019, e do ex-premiê belga Charles Michel, que atual presidente do Conselho Europeu.
Escândalo mexicano
O consórcio também revelou que serviços de inteligência do México fizeram uso da ferramenta em larga escala durante o governo de Enrique Peña Nieto (2012-2018).
O país lidera a lista de números espionados com quase 15 mil. Entre os alvos estão jornalistas, ativistas e até o atual presidente do país, Andrés Manuel López Obrador.
O governo Peña Nieto teria espionado até mesmo parentes de um grupo de estudantes mexicanos assassinados em 2014.
“Foram vítimas pais e mães dos 43 estudantes de Ayotzinapa desaparecidos e também o atual presidente da República e várias pessoas de seu entorno, sua esposa, filhos e até mesmo seu cardiologista”, disse Edith Olivares, diretora interina da Anistia Internacional México, organização que também deu apoio técnico à investigação.
Além de López Obrador, a ferramenta foi usada pela inteligência mexicana para espionar a atual prefeita da Cidade do México, Claudia Sheinbaum, e pelo menos 45 governadores e ex-governadores, assim como o ex-presidente Felipe Calderón (2006-2012).
O jornal “The Washington Post” aponta que dos 50 mil telefones celulares possivelmente espionados ao redor do planeta com a ferramenta, os autores da investigação já conseguiram identificar mil pessoas em 50 países.
O grupo inclui pelo menos 65 funcionários do alto escalão de empresas, 85 ativistas de direitos humanos, 189 jornalistas e mais de 600 políticos e autoridades governamentais.
Entre os jornalistas espionados estão profissionais dos jornais “Financial Times”, “The New York Times” e “El País”.
Nesta terça-feira, o Ministério Público francês anunciou a abertura de investigação a partir de denúncia apresentada pelo portal Mediapart, que apontou que dois de seus jornalistas foram espionados pelo governo do Marrocos.
Segundo a denúncia, o serviço secreto do Marrocos invadiu os telefones de Lénaïg Bredoux, editora de questões de gênero e violência sexual do Mediapart, e de Edwy Plenel, cofundador do portal.
A ferramenta ainda foi usada para espionar membros do círculo pessoal do jornalista Jamal Khashoggi, brutalmente assassinado em 2018 dentro do consulado saudita em Istambul.
As revelações já vêm causando efeitos políticos nos países que fizeram uso da ferramenta para espionar políticos locais, jornalistas e ativistas.
Nesta terça-feira, a oposição no Parlamento indiano interrompeu uma sessão para defender a instauração de inquérito contra o primeiro-ministro Narendra Modi.
Segundo o consórcio que investigou o caso, os aparelhos celulares de pelo menos 300 indianos foram monitorados. Entre eles o de Rahul Gandhi, principal adversário político do premiê Modi.
Já na Hungria, a oposição acusou nesta terça-feira o primeiro-ministro Viktor Orbán de criar um “Estado policial” ao utilizar o programa Pegasus para espiar jornalistas e políticos da oposição.
Pelo menos 300 pessoas teriam sido monitoradas na Hungria.
A eurodeputada de esquersa Klara Dobrev, que faz oposição a Orbán, disse que, com o uso do Pegasus, o governo ultranacionalista do premiê deu um “exemplo de tirania”.
O líder do partido Momentum (liberal), Abdras Kegete-Gyor, e o prefeito de Budapeste, Gergely Karacsony, outros críticos de Orbán, também acusaram o premiê de se comportar como um ditador. O governo húngaro negou as acusações.
A alta comissária da Organização das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, descreveu como “extremamente alarmante” a espionagem de jornalistas, ativistas e políticos. Para Bachelet, as queixas sobre o uso generalizado de spyware “parecem confirmar os piores receios sobre o abuso de tecnologias de vigilância para violar os direitos humanos”.
A alta comissária acrescentou que esse tipo de medida de controle “só se justifica em circunstâncias muito definidas”, o que não teria sido levado em conta no caso do uso do Pegasus.
A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), por sua vez, pediu que governos de países democráticos atuem contra aqueles que se serviram do programa para espionar jornalistas, lembrando que já tinha descrito o NSO Group como uma “predadora digital” da liberdade de imprensa em 2020.
“Os países democráticos devem assumir o controle deste caso particularmente grave, determinar os fatos e sancionar os responsáveis. Convidamos os jornalistas e os meios [de comunicação social] afetados a virem à RSF para se juntarem à resposta judicial necessária após as revelações”, afirmou Christophe Deloire, secretário-geral da RSF, em comunicado.
(Com Deutsche Welle e agências internacionais)
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