“Uma carta sempre pode falhar ao seu destino” (Jacques Derrida)
“Mas mesmo assim precisa ser escrita”
(eu mesmo)
Querida presidenta,
Consigo enxergar as cores de alegria dos seus sonhos neste dezembro, quiçá dos seus longos momentos de vigília. Talvez eu esteja enganado, mas o livro “Privataria Tucana”, do Ribeiro Jr (prefiro assim a confundir com outro Jr Amaury) já é um substitutivo das quimios, ou seja, provavelmente dará conta dos 25% que faltam para a melhora definitiva do caranguejo laríngeo do doutor Lula.
Impressionante como esse Ribeiro Jr conseguiu permanecer vivo nesses 12 anos de pesquisa extremamente detalhista da maior “tenebrosa transação” pós ditadura militar. Agora, depois do lançamento, que em 24h se esgotaram 30 mil exemplares, duvido que ele desapareça, sugiro-lhe incluí-lo na bibliografia da História do Brasil no Ensino Médio.
Pensando nisso tudo, Presidenta, que tal estimularmos os brasileiros a plantarem no vasto solo dessa “pátria mãe tão distraída” toneladas de estimulantes (só não vale ritalina!) como sementes, no intuito de colhermos o despertar definitivo dessa dorminhoca pátria Brasil?
Portugueses, holandeses, franceses, ingleses, americanos, daqui a pouco os chineses. Mas me parece que as “tenebrosas transações” são operadas pelos filhos dessa pátria subtraída que hiberna em pleno hemisfério sul.
Entretanto, corrupção também é cultura!
As Ilhas Virgens Britânicas nunca foram virgens, os arapongas não são araras coloridas que só existem na Amazônia e o “S” do PSDB é uma consoante mágica e volátil.
Já o DEM não tecerei comentários por receios religiosos.
Aos fatos, presidenta.
Na década das privatarias eu era um ser imberbe que sonhava em fazer medicina.
Pela TV (Globo, fazer o quê?) e revista (Veja, não! Não vejo!), acompanhei com meus olhos joviais e famintos todo o teatro, vamos dizer, elizabetano, do FHC Real e seus vassalos.
Uma série de discursos bonitos em economês, os quais não entendia bulhufas, mas me esforçava em revistões e jornalões, ainda na era monopólio absoluto (sem internet), para entender um pouquinho que seja daquela feira do patrimônio público. Fizeram-me acreditar: “veja bem, mas se o dinheiro das privatizações for investido em educação, saúde e cultura, isso parece ser um bom negócio”, discursava eu nos corredores do Colégio São Bento no Rio de Janeiro para quem quisesse ouvir. Mas graças a São Bento, o espírito zombeteiro do Noel Rosa, que também estudou por lá, me empurrou para outros corredores e outros discursos. Fui vendo que esse papo técnico neoliberalista era o mesmo de um assaltante na Av. Rio Branco caso me jogasse um poderoso 171 para levar o meu relógio. “Aê, rapá, pra que que tu qué relógio se já tem hora no teu celular?”. Faz sentido.
Lavanderia Brasil S/A. Aqui nós lavamos toda a sujeira dos impostos a preços imbatíveis.
Reai$ e reai$ de motorista de ônibus, do auxiliar de serviços gerais, da empregada doméstica, do mestre de obras, do médico (de mim!), da economista (da senhora!) transformados em uísque 12 anos, lagosta à provençal e licor Frangélico.
Por essas e outras não creio que macaco goste de banana, meu pai me ensinou que se oferecêssemos 12 anos, lagosta e Frangélico a um primata jovem, ele não iria querer saber de Carmen Miranda e suas frutas.
Mas nem só de supérfluos vivem as virgens britânicas, grana para campanha suficiente para pagar não apenas os cabos eleitorais, mas todos os sargentos, capitães, tenentes e generais. Voltando à História, desde o início da República a “Questão Militar” é recorrente no vestibular democrático brasileiro.
É, ou não é?
Ou, a senhora acha mesmo que Floriano morreu?
Digo isso, pois toda essa dinheirama servia também para alimentar uma espionagem arapongagem tupiniquim. Isso mesmo, Jô Soares estava certo: o Xangô de Baker Street. Havia vários Xangô Holmes ex SNI (Serviço Nacional de Informações ) infiltrados dentro do box do banheiro da Alvorada, na mala do carro da senhora, debaixo da mesa de reuniões ou até mesmo sentado ao seu lado e fantasiado de Palocci. Para a senhora ter uma ideia, aquele senso comum, que até os primatas amazonenses sabem, a respeito do Aécio playboy como fiel frequentador da Festa do Porco (sugiro-lhe escutar “Farofa Carioca”) talvez não passe de uma armação do FHC Real e seus vassalos, incluindo aí o suserano “Moto-SERRA”, pois graças ao livro do bravo quixote Ribeiro Jr., existem outros terrores além da aparência vampiresca.
O mais triste de toda essa história macabra da nossa dorminhoca Pátria recheada de pesadelos, é que mesmo no governo da senhora, mesmo com o congresso e senado em maioria (sonho da antiga promessa Obama), a saúde, que estava tentando sair da UTI, foi politraumatizada e voltou à intensiva em estado de coma.
O SUS seria um circo?
Os conselheiros os palhaços?
A população os trapezistas sem rede de proteção?
Os governos os mágicos?
Perdão, presidenta, não terei como: chamarei o Xangô de Baker Street para avaliar os caminhos da EC 29 entre os corredores do picadeiro.
Pois assim como dizia Vinicius (e agora também o Ribeiro Jr): “tristeza não tem fim, felicidade sim”.
Feliz Naltal!
Carinhosamente,
Dr. Luiz
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