Contou-nos, mostrou-nos a imprensa falada e escrita, a monstruosidade praticada por um indivíduo chamado Prefeito da cidade de Embu, ali, pertinho da nossa capital do Estado. Promoveu, na fazenda do seu pai, uma "churrascada" de passarinhos: sabiás, tico - ticos, rolinhas.
Cerca de cinco mil, segundo o noticiário.
A televisão nos deu a cara do indivíduo, moço ainda, naturalmente detentor de vários diplomas escolares, portanto, sobejamente sabedor dos problemas ecológicos, das escoriações que a natureza vem sofrendo em sua face devido às destruições promovidas pelo bicho homem.
Bem sabemos que a ganância em adquirir riquezas tira do homem o bom senso. Transforma-o em objeto, num anônimo perante o significado da vida, um transatlântico a navegar num mar de ignomínia, imperando, quase sempre, tragédias, agonias, agitações, constantes ameaças ao patrimônio do ser, humano ou material.
Como será que ele fez a sinistra caçada?
Em arapucas?
Mundéus?
Estilingues?
Poderemos imaginar que foi através de redes!
Agora, interessante deveria ser a devoração dos pequenos animais. Cada convidado devoraria pelo menos umas cinquenta aves para encher a pança.
Carrascos! Pecadores!
Vai ver que todos eram pessoas abastadas ou então os tais puxa-sacos. Aqueles que acham todos os atos da autoridade elogiáveis, gloriosos.
Quanta mão de obra para depenar, limpar, temperar tais aves!
Atos heroicos!
Magnânimos, talvez, na interpretação tacanha do tamanho prefeito.
Se sabemos que a ganância tira o bom senso do homem, como poderemos saber o motivo que tirou o bom senso desse indivíduo para essa estúpida aventura?
Crendospadre!
Aqui no nosso abençoado rincão morou um cidadão, cidadão mesmo, não indivíduo, conhecido como Marcondes, ou Marcondinho, para os mais íntimos, o homem de bigodinho caprichado para alguns.
Ele era interessante, ou mais, admirado pelos dotes de profundo amante da Natureza.
Era vendedor ambulante. Lidava com imagens de santos, relíquias e várias outras quinquilharias, quase todas ligadas às religiões.
Não podemos negar que ele era, também, meio conquistador de mocinhas; conquistas que pulavam sempre para o sentido negativo, pois naquele tempo o negócio era bem diferente.
As mocinhas andavam no rabo da saia e os pais eram muito severos e valentes.
Bem, a maior virtude do Marcondes era o seu desempenho junto à garotada que gostava de caçar passarinhos.
Nas horas de folga ele se mandava pelos arrabaldes à caça de estilingues.
Tinha verdadeira idiossincrasia por crianças caçando passarinhos. Estas, esticavam as canelinhas à toda quando viam o Marcondinho, que as amedrontava com gestos e palavras não muito corteses.
Andava pros capões de matos quebrando arapucas e mundéus e, para alegria de alguns pássaros que se viam soltos, desarmando armadilhas.
Eram constantes as encrencas que arranjava com pessoas de espingardas às costas. Não media sacrifícios ou perda de tempo para denunciá-las à polícia, depois, óbvio, de grande bate boca.
Quando vejo uma criança com estilingue, já me lembro do Marcondes, mas me lembrei muito mais quando vi e ouvi a nefasta notícia sobre a tal "churrascada" de passarinhos promovida pelo endiabrado prefeito de Embu.
Pensei comigo: que tal o Marcondinho lá? Seria um deus nos acuda.
Ele ia virar nos avessos tudo o que estava acontecendo.
Ia derramar pragas e xingações de todo porte, isso se não houvesse mortes, pois ele era valente e muito, muito amante da nossa Mãe Caprichosa Natureza.
Autor: Ferdinando Cipó Júnior, no extinto jornal "Folha de São Miguel Arcanjo", edição de 02 de dezembro de 1.984.
Ferdinando Cipó Júnior era um dos pseudônimos de Luiz Válio Júnior, o Gijo Válio, meu pai.
Estamos ultimando sua biografia para editarmos um livreto em 2.013.
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