sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

ABUNDÂNCIA DE VEGETAÇÃO SEM UTILIDADE ESPERA PELOS TURISTAS...

Turismo ainda é apenas uma promessa à economia de Tapiraí

Casa à venda na avenida principal de Tapiraí cuja população vem diminuindo desde 2006/JMR

Está aberta a alta temporada de turismo em Tapiraí. O trânsito é intenso na avenida principal, mas os carros seguem para o Vale do Ribeira e o Litoral Sul. Poucos motoristas descem para comer um salgadinho e respirar o ar da montanha. 
“De vez em quando algum motorista vem para usar o banheiro”, ironiza o comerciante Shigue Inada, 64 anos. Shigue é herdeiro do bar ABC, que foi construído por seu pai há 60 anos e hoje substituiu a madeira por alvenaria. 
A marca ainda é a mesma e foi inspirada por uma linha de doces que fazia sucesso na época (Abóbora, Banana e Coco). 
É um boteco de esquina amarelinho na avenida Professor Natan Chaves, na verdade a rodovia SP-079 (ou BR- 478) que liga o Chuí, no Rio Grande do Sul, ao Juruá, no Acre, através de um entroncamento com a BR-364 em Limeira. 
Shigue conta que antes de ser comerciante seu pai cultivava tomates e Tapiraí tinha uma das maiores colônias japonesas da região. Sua versão da história do apogeu e decadência da economia do município é repetida em cada balcão de bar. 
A cidade se consolidou através da extração e beneficiamento de madeira, atraiu imigrantes japoneses que se dedicavam ao cultivo de chá e começou a minguar com a transformação do sertão em reserva ambiental de preservação permanente nos anos 80 e a mudança das plantações de chá para terras mais planas e mecanizáveis. 
A Prefeitura nunca teve a curiosidade de levantar a quantidade de veículos que descem a serra e sua variação de acordo com as estações. Mas, a exploração do turismo como alternativa de crescimento econômico é seu triunfo para reverter uma notável redução de sua população. 
Tapiraí enfrenta hoje o mesmo problema de Sarapuí nos anos 80 quando os vizinhos buliam: “Visite Sarapuí antes que acabe”, em relação à fuga de moradores verificada pelo Censo do IBGE de 1980. 
Com um belíssimo conjunto de casas estilo Brasil-Colônia, mas fundada já sob domínio do Império, Sarapuí prescindiu do turismo para reverter a crise e entrou para o primeiro time em desenvolvimento humano graças a um pequeno parque industrial atraído pela proximidade da rodovia Raposo Tavares. 
Tapiraí é a bola da vez. “Aqui a gente não tem sequer cobertura de banda larga, não sei se por falta de consumidores ou problemas de logística”, comenta a diretora de Finanças da Prefeitura, Terezinha Nardes dos Santos. 
A localização da cidade não é a favorita para o mundo das comunicações. 
Uma olhada atenta no mapa da Região Metropolitana de Sorocaba revela que as cidades mais prósperas estão nas margens das rodovias e/ou ferrovias por onde também trafegam as infovias. 
Todas as cidades vizinhas a Tapiraí na região serrana prosperaram enquanto viviam sob influência da Estrada Velha São Paulo-Curitiba, que vinha da capital cortando, na região de Sorocaba, Ibiúna, Piedade, Pilar, São Miguel e Capão Bonito. 
Tapiraí parece ter surgido por engano, fora da rota, numa travessia do topo para o sopé da Serra. Cerca de 1 km de altura e a 31 km de Juquiá, no Vale do Ribeira. 
Em 1985 o corte e comércio de madeira foram proibidos em toda a região por uma resolução do CONDEPHAAT – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico – do Estado de São Paulo. 
O sertão, como era conhecido todo o território coberto por floresta, passou a integrar o conjunto das Serras do Mar e de Paranapiacaba. 
A área tombada corresponde a 1.208.810 ha e inclui parques, reservas e áreas de proteção ambiental, bem como esporões, morros isolados, ilhas e trechos de planícies litorâneas, distribuídos entre as coordenadas geográficas 4845 e 4400 longitude Oeste e 2315′ e 2500′ latitude Sul, conforme publicado no Diário Oficial do Estado de 15 de junho de 1985. 
São 45 municípios no Estado de São Paulo desde as divisas com o Rio de Janeiro e o Paraná. Na Região Metropolitana de Sorocaba são cinco: Ibiúna, Piedade, Tapiraí, Pilar do Sul e São Miguel Arcanjo. Nas suas matas estão as nascentes dos principais rios e mananciais de água potável do Estado de São Paulo. 
Em recente programa do Ministério do Turismo, representantes dos municípios de Piedade, Tapiraí, Piedade e Pilar do Sul decidiram unir-se em um bloco denominado “Altos de Paranapiacaba”. 
A atitude foi um gesto de rebelião quando estavam sendo encaminhados passivamente para integrar um grupo onde seriam apenas coadjuvantes de Sorocaba, Itu e Salto entre outros municípios sem nenhuma afinidade ou proximidade física. 
“Nas reuniões a gente não tinha voz”, comenta Hugo Cassoni Godinho, diretor de Turismo da Prefeitura de Piedade e coordenador da sub-região Turística Altos de Paranapiacaba. De acordo com ele, Ibiúna também deveria integrar o grupo, mas preferiu se juntar a região do Embu das Artes. 
Desde a formalização do grupo e sua aprovação pelo Ministério do Turismo, representantes das quatro prefeituras fazem reuniões periódicas para traçar planos de cooperação e fortalecimento. 
“Por exemplo: se numa pousada em Tapiraí o hóspede perguntar aonde tem uma vinícola para fazer degustação, a gente encaminha para São Miguel e não São Roque”, resume Hugo Godinho. 
Piedade e Tapiraí já estão num degrau acima de Pilar do Sul e São Miguel Arcanjo na corrida por um lugar na cena do turismo regional. 
As duas foram incluídas no programa Municípios de Interesse Turístico e dispõem de recursos de R$ 600 mil para investimentos na infraestrutura e podem se candidatar a um lugar entre as Estâncias Turísticas. 
Pilar e São Miguel ainda estão começando a se organizar.

In Jornal Cruzeiro do Sul.

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