domingo, 12 de fevereiro de 2012

DE ONDE O MEU SANGUE


Os italianos foram, de todos os imigrantes europeus, os mais desejados, mimados e elogiados. 
Não eram tão ásperos como os alemães, nem tão anedóticos como os portugueses, galegos e espanhóis.
Eram os italianos inteligentes, amáveis, simpáticos, trabalhadores. 
Confraternizavam-se com os brasileiros nas devoções aos santos, nas procissões, nas folias. 
Cantavam modinhas e operetas. 
Substituíram o trabalho escravo pelo do homem livre. 
Eles gostavam das mulheres de cor.

Foram eles os responsáveis pela ‘arianização’ da gente brasileira, a miscigenação.
Uns maçons italianos de São Paulo publicaram em seu jornal ‘La Vita’, certa vez, a seguinte opinião:
- ”Temos fé no Brasil de amanhã, ao qual novas gerações nascidas do sangue italiano transmitirão novo vigor de espírito. Quanto ao velho Brasil, curvado diante da Igreja Católica, neste velho Brasil crioulo em que até os jornais incrédulos são clericais, não nos dá nenhuma confiança.’

Os italianos são um povo bastante agregado à família. 

Para manter a vida em sociedade, eles prezam e praticam a solidariedade.
No ano de 1.897, existiam no Estado de São Paulo 98 instituições de auxílio mútuo. Em 1.908 eram 170, segundo Zuleika M. F. Alvim no seu livro ‘Brava Gente! Os Italianos em São Paulo – 1.870 – 1.920’.

MAJOR LUIZ VALIO, OU J. SEVERO, OU FERDINANDO CIPÓ, O CAÇULA, CONTA SOBRE SEU PAI, DOMINGOS TROMBETTI, O PATRIARCA DOS VALIO NO BRASIL.

O Major Luiz Válio foi o primeiro Válio a nascer em terras brasileiras e o último da geração de Domingos Trombetti.
O Major era filho de Dom Francisco Domingos Vito Paschoal Valio Trombetti e Anna Maria De Bôno Giudice, ambos italianos.
Dom Francisco, assim como quase todos os seus antepassados, também foi militar. 
Segundo o que o Major Luiz Válio deixou impresso nos seus escritos, ‘ havia uma razão no meu íntimo para ser tão amigo da farda. Pois não foram os meus antepassados quase todos militares? O primeiro parente meu que veio da pátria de Sócrates para a de Mussolini, no século onze, era o capitão V.I. Esse primitivo veio proliferando e desdobrando-se ‘militarmente’ até a época de meu pai, que também usou farda e como tal comandou uma praça de guerra sitiada, tendo de render-se pela fome, visto como ele e os seus soldados, depois de consumirem todos os víveres, passaram a devorar os cavalos, os cães, os gatos e até as ratazanas ali existentes!’ 
Segundo se sabe, Domingos Trombetti deve ter embarcado para o Brasil entre 1855 e 1858, escondido num navio, deixando na Itália a mulher e três filhos: José, Elias e Vicência. Claro que alguns anos depois toda a sua família também veio para o Brasil.
No jornal “O Progresso”, primeiro periódico editado em São Miguel Arcanjo, em data de 22 de fevereiro de 1931, número 99, do meu acervo particular, Luiz Válio, usando um dos seus vários pseudônimos, neste caso J. SEVERO, assim escreveu a sua história e a do seu pai:

“Em 1868, meu pai construiu sua vivenda aqui na beira da estrada do Turvo, bairro mais populoso do município de Itapetininga, hoje quase abandonado, estrada essa que passava pela Paróquia da Fazenda Velha, criada em 11 de janeiro de 1866, apesar de possuir apenas uma capela perdida no meio da selva espessa, tendo, de longe em longe, um poético casebre coberto de capim, onde , felizes pela sua ignorância, viviam os seus pacatos moradores.
Quando nasci, a casa de meus pais já de muitos anos vinha sendo frequentada por um geólogo norte-americano muito sabido em ciências mineralógicas, tendo feito estudos e descobertas importantes, tanto nas regiões centrais como nas regiões do litoral da então Província de São Paulo.
Ele era meigo e simpático, possuindo o que quer que fosse de atraente, talvez como resultado dos eflúvios da floresta virgem que o envolviam, ou das emanações sutis dos minerais por ele encontrados nas profundezas da terra, emanações que, por efeito mágico, fizeram causa comum com o seu organismo físico...
Não sei o que havia nele!
Só sei que ele era bom, meigo e simpático, que embalou-me na minha infância, que ensinou-me a cultuar a Natureza e que fomos sempre amigos, amigos sinceros, amigos do coração!
Tenho saudades do americano, mestre, amigo e pai espiritual, especialmente ao lembrar-me das lições que me fazia estudar e que, quando não sabidas, chamava-me a atenção, assim:
- “Oh! Menina, você hoje estar muito burrinha!...”
Pois bem, caros leitores, aquele americano cujo nome era James Monroe Keith, veio ao nosso país em 1867 e aqui percorreu a nossa província em todos os sentidos, estudando-lhe sempre o subsolo, onde viu coisas maravilhosas! Dizia-me ele que o Brasil encerra nas suas entranhas tesouros ainda mais maravilhosos que os antigos contos de fadas. Não sendo preciso nem a lâmpada de Aladim, nem a alavanca de Arquimedes para encontrá-los e removê-los. É bastante, dizia, o uso da broca de Rokfeller e a perspicácia comercial dos Rotchilds para trazê-los à superfície e transformá-los em moedas sonantes, com as quais , tornando-nos livres perante os meios financeiros internacionais, poderemos galgar a posição de “primus inter pares”, entre os países mais ricos do mundo!
James Monroe Keith aceitou a grande naturalização de 1.889 e, por meu pedido, alguns anos mais tarde qualificou-se eleitor deste município, votando com o Partido Dissidente, fundado por Prudente de Moraes, de que também fiz parte como Presidente do Diretório local. James era um oposicionista sistemático, devido, talvez, ao fato de haver combatido, em seu país, de arma em punho, contra o Governo de Lincoln, na célebre Guerra de Sucessão, sendo este o principal motivo da sua vinda para o Brasil.
Desde 1869 foi que o americano James veio de frequentar o solo sagrado, aonde, mais tarde, em 1880, tive a ventura ou a desventura de nascer e onde por ele fui embalado em criança, ouvindo-lhe canções regionais de envoltas com as saudades da pátria amada distante!...
De 1889 aos 10 anos, comecei interessar-me pelos seus ensinamentos para logo mais tarde ajudá-lo a tratar de negócios valiosos relacionados agora com as despretensiosas linhas que irei rabiscando no intuito de desvendar o único meio de nos tornarmos, nós, os brasileiros, independentes e abastados, apenas remando para o subsolo!”

Conforme pesquisas nas Atas da Câmara do município de São Miguel Arcanjo, ao tempo do início de sua autonomia, já encontramos o nome de Domingos Trombetti como sendo morador e proprietário no lugar. 
Segundo consta, Domingos morava em frente ao Philomeno Bráulio de Oliveira, local onde no ano de 1.919 seu filho, o Major Luiz Válio inauguraria uma empresa – Máquina São Luiz - que mais tarde foi vendida ( a máquina) ao comerciante Narlir Miguel e o referido imóvel à família de Maura e Licério de Oliveira. 

Dom Francisco Domingos Vito Paschoal Valio Trombetti, pai do Major, faleceu em 20 de junho de 1907, às 14 horas, em São Miguel Arcanjo.
Anna de Bôno Giudice faleceu em 29 de março de 1902, às três horas da madrugada, também em São Miguel Arcanjo.
Domingos Trombetti, a esposa Anna, o filho Luiz Válio e sua esposa Cirila Nogueira Válio, muito contribuíram para com as Missões dos Padres Capuchinhos, tendo sido diplomados como participantes perpétuos dessas obras, conforme documentos assinados pelo Frei Evaristo Ursula e em poder desta escritora, pesquisadora, crítica social e poetisa são-miguelense, Luiza Válio.



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