domingo, 19 de fevereiro de 2012

ADELINA PRANDINI RIBAS, A "DONA NINA."

FINA FLOR ADELINA

O BROTAR DE UMA SEMENTE


Mulheres de fibra, predispostas ao trabalho em prol das pessoas carentes, incansáveis na árdua tarefa de buscar apoio financeiro junto à sociedade e aos órgãos públicos, São Miguel Arcanjo teve muitas. Porém, empreendedoras, apenas uma, levando-se em conta a execução de projetos sociais.
E essa mulher nem era daqui.
Era uma paulistana, nascida no dia 13 de julho de 1.900.
Chamada Adelina Prandini Ribas, deixou seu nome fincado no Conjunto Habitacional “Adelina Prandini Ribas (a COHAB de número 4 em frente ao Projeto Histórico Cultural 9 de Julho) e no Centro Comunitário sito à Rua Rui Barbosa, 607.
O termo “mulher empreendedora” seria talvez uma feliz coincidência: Fausto Ribas, seu marido, viera residir no município no início dos anos 60, a fim de administrar a famosa Fazenda Atlântida, que pertenceu ao grande “empreendedor” Comendador Dante Carraro.
Com a morte deste em 1.949, os herdeiros contrataram seus serviços e a família demonstrou sempre o máximo de honestidade na gerência da referida fazenda.
Apelidada carinhosamente de “Dona Nina”, tão logo conheceu a cidade de São Miguel, entristeceu-se pelo marasmo em que ela vivia e sentiu que poderia ajudar a sua população na busca de melhor qualidade de vida.
Embora morando na casa sede da Fazenda, fixou residência à Rua 7 de Setembro, 749 e, anos depois, na Rua Coronel Fernando Prestes, 871.
Eram casas alugadas.
Naquela época, tudo era bastante precário na cidade.
Crianças carentes esmolavam pelas ruas.
As mulheres não tinham assistência nenhuma do Poder Público, aliás, nem Departamento de Assistência Social existia por aqui.
Exatamente às quatro horas da tarde do dia 10 de março de 1.963, no Clube Recreativo “Bernardes Júnior”, uma nova semente foi lançada ao solo de São Miguel Arcanjo.
Completamente diferente de todas as outras sementes.
Trazida por uma mulher charmosa, enérgica, cheia de vontade e de vida, que fez um convite a um grupo de senhoras da elite local e recebeu aplausos e a simpatia delas para iniciar aqui um projeto por ela idealizado: organizar uma Associação cuja finalidade seria “fazer a assistência social nesta cidade”.
Fizeram parte da mesa diretora dos primeiros trabalhos, além da senhora Fausto Ribas (Adelina Prandini Ribas), a senhora Francisco Fogaça de Almeida (à época, 1ª. Dama do Município) e a senhora Adhemir Monteiro (então presidente da Legião Brasileira de Assistência de São Miguel Arcanjo).
Conforme se insere do livro de Atas, hoje fazendo parte do acervo da Associação Casa do Sertanista de São Miguel Arcanjo, estiveram presentes na reunião as senhoras: Onilce Gomes Fogaça, Augusta Abrão, Rafca Abdala Aquim, Rafca Gabriel, Odete Hakim Elias, Glória Jabur Hakim, Maria Conceição Camargo, Brígida Fogaça, Hilda Terra de Souza, Terezinha Terra de Souza, Maria Abdala Idálio, Marisa Beretta, Francisca Áurea Fogaça Balboni, Maria Pereira Daniel, Maria Aparecida Idálio Teles, Terezinha Vieira Fogaça de Almeida e Amélia Como Terra Monteiro, a dona “Mimi.

Adelina leu um ofício que trazia do senhor Prefeito dando inteiro apoio à obra que se iniciava. Explanou sobre uma organização da qual fazia parte em São Paulo e a maneira como lá se fazia assistência social.

Após debates sobre o tema, as senhoras presentes deliberaram que esse Movimento teria por lema “FAZER O BEM SEM OLHAR A QUEM”, e que não haveria distinção nem de religião, nem de política, muito menos de raça ou posição social.
Decidiu-se que o programa consistiria em: Amparo à Criança; Amparo à Velhice; Assistência à Gestante; Assistência ao Doente; Criação de uma Seção de Costura; Socorro à Zona Rural; Instalação do Socorro de Emergência; Incentivo ao Amor Filial; Amparo e Orientação à Menina Moça; e Abolição da Mendicância na Cidade.
Por unanimidade, foi escolhido o nome da entidade.
Seria: “MOVIMENTO SOCIAL FEMININO DE SÃO MIGUEL ARCANJO”.
Estabeleceu-se que os donativos das componentes do Movimento seriam espontâneos e arrecadados já a partir da segunda reunião.
Muito entusiasmo entrou nas vidas dessas senhoras.
Como jamais se vira, a cidade encontrou nova vida e pretendeu renascer sob a força revolucionária dessas mulheres. Claro que teve gente que não olhou com bons olhos essa união entre as mulheres. Havia muitas desconfianças. Mas o tempo se encarregou de resolver essas diferenças com a comunidade.
As primeiras ofertas voluntárias das mulheres participativas foram generosas para com o MOVIMENTO que decidiu ir em frente, elegendo a sua primeira Diretoria que assim ficou constituída:

Presidente......................................... senhora Fausto Ribas
Vice – Presidente............................. senhora Francisco Fogaça de Almeida
1ª. Tesoureira................................... senhora Alcidino França
2ª. Tesoureira................................... senhora Francisco de Souza
1ª. Secretária..................................senhora Gilberto Sampaio Mercadante
2ª. Secretária.................................... senhora Dinarte Telles
Diretora............................................ senhora Luiz Balboni
Vice – Diretora................................ senhora Nestor Fogaça


Devido a alguns cidadãos se candidatarem a cargos eletivos, suas esposas que faziam parte da Diretoria foram obrigadas a deixá-la, sendo então substituídas por outras pessoas, como se vê logo abaixo. No entanto, elas continuaram seus trabalhos dentro da Associação. 
A seguir, foram organizados os setores de Costura, Almoxarifado, Pronto Socorro de Emergência, Assistência Social com Postos de Informações, Sindicância, Transmissor de Informes, Visitação a Doentes, sem esquecer também de montar-se uma comissão para cuidar da parte social.
As reuniões aconteciam numa das salas da sede da Prefeitura local, na Praça da Bandeira, que anos depois passou a chamar-se Praça Antonio Ferreira Leme.
Após contatos com o senhor Prefeito Municipal, este prometeu que seria construído um anexo à Santa Casa para atuar como Posto de Socorro de Emergência.
Adelina chamou para auxiliá-las algumas meninas a partir dos 12 anos, que também aprenderiam pintura, pintura sobre louças, culinária, costura, trabalhos aplicados, etc.
Depois da realização das primeiras reuniões, o Movimento já pode contar com novas colaboradoras, tais como: Munira Ozi Abrão, Lúcia Galvão Fogaça, Augusta Moisés Abrão, Idilva Tavares Rosa, Iselda Merler, Joana Terra Bittencourt, Ondina de Almeida Fogaça, Sidney Nery Silvério, Antonia de Andrade Vieira, Angelina Miguel Aruk, Maria de Lourdes Abrão Tarabay, Geni Elias, Alice Correa de Souza, Letícia Thibes Nunes, Irene Angartem, Elza Camargo, Aparecida Gonçalves de Souza, Sônia K. Ramos Viana, Maria de Marchi Ortega, Ebe Ribas, Maria das Dores de Almeida.
Rapidamente, a Comissão de Mendicância pôs-se a elaborar o cadastro de pessoas pobres no município. Começaram campanhas de toda sorte na cidade. Desde a Campanha do Agasalho, até das Roupas Usadas, do Calçado, do Enxoval para os Bebês, dos Brinquedos usados, de Alimentos, etc.
Legalizou-se a entidade; no Cartório do Registro de Imóveis e Anexos de Itapetininga, lá a transcrição numero 167, fls. 38 do Livro A-1. O extrato foi publicado no Diário Oficial de 23 de setembro de 1.964.
A sua primeira Diretoria Executiva:

Presidente.................................... Adelina Prandini Ribas
Vice-Presidente........................... Francisca Fogaça Balboni
Diretora....................................... Joana Terra Bitencourt
1ª. Secretária............................... Lúcia Galvão Fogaça
2ª. Secretária............................... Maria Camargo
1ª. Tesoureira.............................. Sidney Nery Silvério
2ª. Tesoureira...............................Hilda Terra de Souza

O seu primeiro Conselho Consultivo:
Izelda Merler, Onilce Fogaça, Augusta Hakim, Haráfica Dibo Miguel e Marisa Yemma Beretta.
O seu primeiro Conselho Fiscal:
Terezinha Terra de Souza, Geny Elias, Munira Abrão, Maria da Glória Hakim e Maria Pereira Daniel.


HOMENAGENS ÀS MÃES


Adelina promoveu as primeiras homenagens às mães da cidade.
A primeira festa em homenagem à “Mãe do Ano” foi realizada em 11 de maio de 1.963 no Cine Teatro São Miguel e a primeira mãe do ano a ser homenageada foi a senhora Leontina Cerqueira da Silva, mãe de 21 filhos (15 deles vivos, na época). O show foi feito por artistas amadores da própria localidade.
Nessa ocasião, o maestro da Corporação Musical Sãomiguelense era o Pedro Francisco Alves, que apresentou o “Hino do Movimento”, uma composição sua com letra de Adelina.
Ainda foram homenageadas durante anos seguidos, as seguintes senhoras: Francelina Rato, Maria Rita, Francisca Vieira Pinto (que teve 17 filhos, sendo 14 vivos na ocasião), Maria Antonia (esposa de José Correa da Silva, com 14 filhos, e que contava com 100 anos de idade; a platéia do Cine Teatro São Miguel, nesse dia, foi ao delírio, quando dona Nina afirmou que aposentaria a senhorinha, dando-lhe todo apoio moral e material), Josefa Rodrigues, que esperava seu 15º. filho. Já as mães dos engraxates recebiam homenagens anualmente.
Teodora Dias do Nascimento, 77 anos, que cuidava dos velhinhos do Asilo também foi lembrada por Adelina e presenteada com magnífica festa em sua homenagem.
Outras, ainda: Izaura Ferreira, mãe de dez filhos; Elisa Clementina Vieira, 84 anos, mãe de dois filhos, Escolástica Vieira Caetano, a mais idosa de 1.973 e também representante das mães pretas; Virgília Maria das Dores, 78 anos, com seus 12 filhos, todos vivos e presentes no evento; Ramira de Araujo, com 88 anos de idade.
No ano de 1.973, um grande “Show Teatro Móvel de São Paulo” esteve em São Miguel, a pedido de Adelina. Todo ele em benefício do Clube. Sob a direção de Natália Thimberg, esse grupo tinha até uma grande orquestra.
Em 1.976, a mãe homenageada pelo Movimento tinha 107 anos de idade. Chamava-se Maria Silvério e era mãe de 20 filhos.


BAZARES


Os primeiros bazares organizados e promovidos pela entidade tiveram grande colaboração da senhora viúva do Comendador Humberto Yemma e da senhora Aldo Beretta, sua filha.
Esse Comendador foi quem trouxe do sul da Itália para viverem no Brasil, especialmente nas terras da Fazenda Santo Antonio, situadas em São Miguel Arcanjo, os primeiros búfalos (20 fêmeas e 2 machos) da raça denominada “Mediterrânea”. Aldo Beretta, seu genro, foi um dos fundadores da Associação Brasileira de Criadores de Búfalos, em 1.960, e o seu primeiro Presidente, além de ser o responsável pela industrialização e pelo comércio do leite de búfala na fabricação do queijo tipo mussarela.


SANTA CASA


Havendo muita dificuldade nos trabalhos para a instalação do Socorro de Emergência em São Miguel, burocraticamente falando, as mulheres do Movimento resolveram então auxiliar na campanha em prol da construção da Santa Casa, organizando shows, quermesses e bailes. Toda a arrecadação era sempre entregue nas mãos do senhor Prefeito.

Juntamente com Dr. José Carlos Kalil, Dr. Paulo Régis Alves Rodrigues, Dr. João Batista Pilotto, José Ramos, Narlir Miguel, José França, Mário Mucim, Joaquim Inácio Rodrigues Júnior, Antonio Assay, Massami Aoyagui, João de Oliveira, Oscar Arrivabene, Sérgio dos Santos França, Alcindo dos Santos Terra, Pedro dos Santos, Vadir Domingos Ferraz, Miguel Dias da Silva, Pedro Mariano Machado Júnior, José Antonio de Souza, Roque Mariano Ribeiro e Maria Aparecida Silva Fogaça, Adelina participou de reuniões realizadas em agosto de 1.971 para apreciação sobre os Estatutos que regeriam o funcionamento da Santa Casa.

Através de Adelina, Mercedes Ribas Cunha, da Associação Nossa Senhora da Pompéia, de São Paulo, doou 818 peças de enxoval para recém-nascidos, os quais foram entregues por ocasião da inauguração da Maternidade local.


UMA PRELEÇÃO


Em 05 de abril de 1.964, numa reunião da associação, Adelina fez uma preleção sobre os últimos acontecimentos políticos que abalavam o país. Constou da Ata:
“Não podemos deixar de manifestar a nossa satisfação por possuir em nosso peito um coração brasileiro e paulista e aqueles que vieram de outros países e foram recebidos de braços abertos neste país abençoado por Deus, e que já fizeram desta Pátria a sua; poder continuar a ver a nossa bandeira verde e amarela desfraldada sem ser acrescentada a cor vermelha com as insígnias da foice e do martelo. Congratulamo-nos com o Governo de São Paulo e todos os bravos soldados do Brasil que com bravura e patriotismo souberam conquistar a vitória sem derramamento de sangue entre irmãos. Nas nossas preces devemos pedir a Deus e a nossa Padroeira Nossa Senhora de Aparecida, que abençoe o Brasil e que possamos sempre gozar dessa liberdade que esta Pátria nos concede”.
“A Marcha da Família Com Deus Pela Liberdade”, movimento social que levou milhares de pessoas às ruas, também em São Miguel teve repercussão, graças a essa valorosa mulher que, assim como milhares de outras pessoas brasileiras e sãomiguelenses, temiam o comunismo.
Também a campanha “Ouro para o Bem do Brasil”, por ela encabeçada e que foi encerrada às 22 horas do dia 08 de julho de 1.964, em São Miguel conseguiu arrecadar:
Dinheiro: Cr$765.000,00; Ouro: 380 gramas; Prata e Moedas: 38 quilos.
Na época, os Governos dos Estados de São Paulo, Guanabara e Minas Gerais articulavam-se contra o poder central exercido por João Goulart. Deposto Goulart em 31 de março de 1.964, toma-lhe o lugar o presidente Castello Branco. A inflação no Brasil chegava a 90%.
Elege-se Governador dos paulistas, Adhemar Pereira de Barros.
Houve corte nos gastos públicos, aumento da carga tributária, arrocho salarial. Veio a Repressão. Suspenderam-se os direitos individuais. Restringiu-se a liberdade sindical.


ASSOCIAÇÃO DE PAIS E MESTRES


A Escola José Gomide de Castro e mais tarde a Escola Arcy Prestes Ruggeri tiveram grande colaboração do Movimento nas suas quermesses organizadas em prol da Associação de Pais e Mestres.

LEGIÃO BRASILEIRA DE ASSISTÊNCIA


No ano de 1.964, Adelina foi nomeada também Presidente da Legião Brasileira de Assistência e em comum acordo com a Diretoria, decidiu-se que os trabalhos dessa outra entidade deveriam caminhar paralelamente aos trabalhos do “seu” Movimento no amparo à mãe e à criança.
A sede ficava na Rua Miguel Terra.
Através dela, a senhora Ugueta Bassi Fruguli enviou um donativo em espécie. Também o senhor Eduardo Elias concorreu com uma boa soma e a entidade pode comprar 60 cobertores e dezenas de metros de chita, flanela e morim para serem distribuídos aos seus protegidos. 
Tendo sido transferido para o município de Tatuí o médico Dr. Gilberto Sampaio Mercadante, foi aclamada para substituir sua senhora no cargo de Secretária, a senhorita Lúcia Galvão Fogaça, depois senhora Odilon Domingues, hoje com 81 anos de idade.


A LÍDER MARIA DAS DORES


Logo em 1.964, a senhora Maria das Dores, líder na Vila Nova, tornou-se associada e disposta a auxiliar no setor Mendicância e Sindicância. O número de pedintes aumentava assustadoramente dia a dia na cidade. Mas ficou decidido que não se fariam rifas ou listas para não cansar o povo e nem promoveriam bailes, pois o lucro era mínimo.
A maioria dos comerciantes chamados para auxiliar no ítem mantimento, mostraram má vontade.
A Prefeitura também estava tendo responsabilidade na construção do Ginásio e ultimando os serviços de encanamento de água, e então não havia verba extra.
Geralmente, os alimentos eram entregues a inválidos, velhos que estavam impossibilitados de trabalhar e viúvas com filhos menores.


IGREJA MATRIZ


Quermesses em benefício da Igreja Matriz também começaram a ser feitas por iniciativa de Adelina Prandini Ribas. Na primeira delas, em setembro de 1.964, com diversas Barracas como, por exemplo: do Salgado (cachorro quente), do Refrigerante (Coca-Cola, caçula, etc.), do Jogo de Argolas (com prêmios), do Jogo de Estilingue (com prêmios), da Pesca Milagrosa (com prêmios), etc.
Quanto ao show, era Adelina quem organizava, sempre contando com a colaboração da banda lira da cidade.
O lucro, depois do balancete, era entregue ao padre Francisco que só tecia elogios para a entidade e suas associadas.
Essa primeira quermesse foi totalmente diferente de todas as outras já realizadas na cidade.
No final de 1.964, a entidade recebeu da Indústria de Tapetes Atlântida S.A. um tapete medindo 1,40 por 2,00 e decidiu-se que seria leiloado em benefício do Natal dos Pobres.


LEITE


A distribuição de leite passou a ser feita no final do ano de 1.964, quando então a sede do Movimento era na Avenida Municipal, 555, que depois foi denominada Avenida João Pessoa e é atualmente a Rua Sadamitsu Iwassaki.


AÇÕES DO MOVIMENTO


No início de 1.965, o relatório de Assistência ao Município assim se resumia:
Pessoas assistidas....................................... 110
Lactentes.................................................... 062
Menores de idade até 13 anos...................202
Adolescentes até 17 anos...........................017
Adultos dos 18 aos 69 anos........................150
Velhos entre 70 e 100 anos....................... 015
Cegos.......................................................... 003
Doentes........................................................031
Merenda Escolar, 7 a 12 anos...................130

Sorte que nesse ano a Prefeitura Municipal resolveu conceder verba para os trabalhos sociais da entidade, principalmente aqueles ligados à Maternidade e à Infância.
Também o presidente da Câmara de Vereadores se dispôs a ajudar.
O Vice-Prefeito doou uma placa para ser afixada na porta da sede.


NATAL DE AMOR


Um Movimento que sempre se pautou no amor ao próximo, não poderia deixar de homenagear o nascimento de Jesus Cristo com a comunidade.
No findar do ano de 1.964, veja só o que Adelina preparou para a cidade, contando com o apoio da Rádio Difusora de Itapetininga:
- Desfile com Papai Noel pela cidade;
- Futebol caipira, onde todos se fantasiaram para jogar contra um time de Itapetininga;
- Grande show com artistas da aludida Rádio;
- Apresentação da Banda da Corporação Musical Sãomiguelense;
- Apresentação da Fanfarra do Grêmio Estudantil. 
Nesse ano, o Dr. Vital Fogaça de Almeida também colaborou com o Natal dos pobres, doando 50 mil cruzeiros.
Também foram feitos muitos Natais no Asilo, onde os presentes ficavam debaixo de uma grande árvore lá instalada.
Para os Pobres, geralmente se faziam os natais na Praça da Matriz.
Nem mesmo os presidiários eram esquecidos por Adelina no Natal.


VOLUNTÁRIAS



Na verdade eram três entidades caminhando com uma perna só: além do Movimento Social Feminino, eram a Caritas do Brasil e a Legião Brasileira de Assistência em São Miguel arcanjo.
Adelina propôs fazer-se a “Campanha de Voluntárias”.
No dia em que as Voluntárias Maria das Graças de Almeida, Tarsila de Souza Carvalho, Adel Wakim e Maria Matias entraram para tomar parte no Movimento foram recebidas festivamente. Adelina ofereceu à juventude sãomiguelense o prédio da sede da assistência Social para que nele se reunissem e fizessem suas festinhas, desde que portando-se condignamente.
Tarsila tornou-se secretária preenchendo a vaga de Sônia Viana na Assistência.


HORTA DOMÉSTICA


Também de iniciativa de Adelina a promoção de “Hortas Domésticas”, que contavam, a princípio, com a colaboração da recém inaugurada “Casa da Lavoura” nas explicações, na assistência técnica e na distribuição de sementes.
Através de cartazes alusivos confeccionados pelas associadas, foram feitas no município sede e nos bairros inúmeras campanhas contra verminose, amarelão, higiene na alimentação, etc.
Nesse tempo, já possuíamos o Posto de Puericultura e foi Dona Adelina quem fez campanha para que as novas gestantes freqüentassem o mesmo, sem nenhum receio.
O Curso de Artesanato também sempre caminhou muito bem.


FESTA DAS NAÇÕES


A Festa das Nações, também uma iniciativa de Adelina, não aconteceu em 1.965 por falta de colaboração do comércio local. Mas realizaram-se mais tarde na Escola “Nestor Fogaça”, contando com diversas gincanas.


ASILO


Todos os anos o Movimento Social Feminino contribuia com o Asilo local. Eram presentes doados desde camisas e penhoares até sabonetes e chinelos e alimentos. 


SEMANA DA CRIANÇA


A educação de base fazia-se através da boa vontade de todas as participantes do Movimento. Transmitir o saber era a causa mais nobre dessas mulheres que não se cansavam de trabalhar e estimular habilidades.
Dos retalhos se faziam roupas para as crianças que a partir do ano de 1.965 seriam amplamente homenageadas. Aliás, elas jamais deixaram de ser festejadas pelo Movimento, enquanto Adelina viveu.
Promoveu-se pela primeira vez na cidade a Semana da Criança, editando-se até mesmo um Concurso de Robustez Infantil.
No ano de 1.970, tentou-se através da Secretaria de Turismo, a realização de uma viagem à Capital pelas crianças do Clube do Engraxate Mirim e das que melhor se houvessem distinguido em cada classe do Grupo Escolar para a Festa no Centro Municipal de Campismo e uma visita ao Salão da Criança. Na Capital, as crianças teriam alojamento e refeição por um dia, mas o transporte de São Miguel Arcanjo até lá não foi conseguido.
Resolveu-se então levar as crianças até o município de Capão Bonito a fim de conhecerem como seria uma Praça de Esportes.


VOLUNTÁRIAS


Na reunião de março de 1.966, compareceram os novos mandatários da cidade: Prefeito Nestor Fogaça; vice Cassiano Vieira, os comissários de Menores e o Vereador Miguel Terra Domenici que entregaram o título à senhorita Maria das Graças de Almeida que exerceria o cargo de Secretária da “Caritas do Brasil” da Paróquia de São Miguel Arcanjo e à senhorita Maria Aparecida Medeiros para o cargo de Tesoureira da Legião Brasileira de Assistência.
Essas meninas muito auxiliavam ao Movimento com sua jovialidade e energia, além de empenho.
Quando as festas aconteciam no palco e no interior do cinema, a arte dos enfeites cabia às voluntárias Geni, Tarsila, Cida e Graça.
Para auxiliar na bilheteria, a senhora Tereza Fogaça.
Para controle de discos – DJ – a Ebe Ribas, filha de Adelina.
Do resultado de um desses shows, certa vez, compraram-se 112 cobertores e grande variedade de tecidos para o Clube das Mães, onde também se desenvolviam os trabalhos de Educação de Base.


SERVIÇO SOCIAL


Atuando como se fora um zangão polinizando as flores, Adelina sempre dizia: - “Que esta cidade tenha a sede do Serviço Social como uma colméia e que as abelhas venham trabalhar com afã e carinho para produzir o mel que será dividido a centenas e centenas de necessitados”.

 


O CLUBE DO ENGRAXATE MIRIM


O Clube do Engraxate Mirim foi fundado no dia 11 de março de 1.966 pela Associação Beneficente Movimento Social Feminino de São Miguel Arcanjo. Mas vamos deixar que a própria Adelina Prandini Ribas diga isso na primeira página do jornal “Folha de São Miguel Arcanjo”, edição de número 8, de 02 de agosto de 1.970, que aqui transcrevemos:

“A Associação Beneficente Movimento Social Feminino de São Miguel Arcanjo há muito tempo desejava vir a público para divulgar sobre a fundação e manutenção do Clube do Engraxate Mirim da nossa cidade. Mas não havia possibilidade de tal, pela falta de meios. Porém, hoje, graças ao jornal “Folha de São Miguel Arcanjo”, podemos realizar o que aspirávamos, porque ele é o porta voz dos bons esclarecimentos sendo esses não só para esclarecer, mas para unir, para despertar as boas realizações em nossa cidade, de maior atenção, mais colaboração, mais calor humano pelo que é nosso, para que progrida com o fim de bem estar comum, enobrecendo a cidade e o seu povo.
O Movimento Social Feminino depois de desempenhar total trabalho de assistência e promoção à Maternidade e à Infância, ao doente, à velhice e aos adolescentes, voltou também a sua atenção ao menor que tão abandonado vivia pelas ruas, à procura de um ganha pão para auxiliar a sua família e a si próprio. O menor que trabalhava como engraxate.
Fazendo uma sindicância rigorosa, constatamos que entre eles havia delinquência. Furtavam, eram viciados na bebida, no jogo e no fumo. Depredavam patrimônios públicos e particulares, com vários casos na Delegacia de Polícia.
Procuramos traçar bases sólidas de amparo a esses menores, assistência e promoção na parte profissional, moral, social, esportiva e humana, formando o Clube do Engraxate Mirim de São Miguel Arcanjo.
Levando ao conhecimento do Excelentíssimo Senhor Juiz de Menores de Itapetininga a nossa iniciativa e o programa traçado as suas finalidades, não só aprovou como nos incentivou com orientações e total colaboração.
Consta a sua fundação no dia 08 de maio de 1.964.
Dentro de extensivo programa consta o seguinte: assegurar-lhes amparo e proteção em todos os sentidos, protegendo-os mesmo com medidas policiais contra os que os maltratem, espancando, não pagando os seus serviços profissionais e não os respeitando como merecem pelo seu trabalho eficaz e honesto.
Para exercer o trabalho como engraxate nas ruas e domicílios é necessário que possuam sua carteirinha de trabalho profissional e sem ela outros menores não poderão exercer a profissão de engraxate.
Fornecemos gratuitamente ao menor engraxate a caixa profissional equipada, três uniformes, dois agasalhos, as fotografias para documentação. Quando necessita, recebe assistência médica, dentária e medicamentos. São realizadas reuniões educacionais, sendo observadas as suas faltas; são orientados com compreensão e carinho para fazê-los conhecer os seus deveres e responsabilidades.
A promoção alcançada entre os menores que integram o Clube do Engraxate Mirim desta cidade já é conhecida e admirada nas demais, e frequentemente nos pedem instruções para que também possam, nos imitando, dar proteção aos menores pelo convívio social com um trabalho inicial fazendo-os conhecer, ainda pequeninos, os seus deveres.
Com convicção podemos afirmar que os nossos meninos, à procura de trabalho pelas praças e ruas com seus uniformes e suas caixinhas coloridas, enfeitam a cidade. Estão sempre presentes na alegria e na dor, portanto merecem carinho.
Não recebemos verba de espécie alguma desde o início deste ano. Para mantê-los, enfrentamos grandes dificuldades e só não nos faz recuar é pelo carinho que temos por eles e a satisfação das promoções obtidas.
Já são ginasianos dezenas de jovens que pertenceram ao Clube Engraxate Mirim, bem como vários que trabalham em estabelecimentos locais, demonstrando todos, ótimo comportamento e responsabilidade.
Estes esclarecimentos eram necessários para no final fazer um apelo às autoridades e ao povo da nossa cidade.
Às autoridades, para que voltem a sua atenção a esses menores, para que não sejam somente engraxates, porque a finalidade não terminou com esse feito. Desejamos dar a eles algo mais, por meio da Obra Vocacional, conduzindo os que não tem possibilidade de maior estudo a uma condição de trabalho que represente uma profissão futura.
“A flor que enfeita é necessário que seja cultivada”.
Ao povo, para que nos auxilie a proteger esses menores que, enfrentando o frio, a chuva e o sol, exercem o seu trabalho eficiente e honesto. Dentre esses menores há aquele que aos sábados e domingos, por serem dias de melhor rendimento, se alimenta com um sanduíche para assim poupar e não se afastar do seu trabalho, porque na segunda feira faz provisão para sustentar a família. Existem vários órfãos e paupérrimos que chegam a desmaiar devido a sua escassa alimentação.
Não permita que adultos inconscientes de seus atos paguem o trabalho do engraxatinho com uma cédula inutilizada, que, pela sua inocência, aceitou e não pode usá-la. Não permita que ele seja maltratado, chutada a sua caixa de trabalho. Não permita que lhe tirem o seu ganha pão, tirando os seus fregueses, engraxando por menor preço do que é estabelecido para o seu trabalho. Não permita que ele seja levado para jogos proibidos em bares e casas particulares, cobrando partidas e o barato, porque viram que ele estava com algum dinheiro adquirido com o seu trabalho para o sustento de sua família. Não permita que lhes façam convites imorais que transtornam a sua personalidade. Não permita que ele chore humilhado.
Na totalidade das vezes em que a figura do engraxate é utilizada como motivação artística está sempre ligada ao lado triste da vida.
Ajude-nos a desfazer essa impressão, para que os nossos meninos sintam-se seguros e felizes, que continuem na sua promoção, tornando-se, no futuro, homens que orgulhem a nossa cidade.
Sabemos que muitos ignoravam a vida profissional e os dissabores que enfrentam o menor engraxate.
Temos certeza que as autoridades e o povo serão também de hora em diante os guardiões desses pequeninos.
Obrigada às autoridades, obrigada aos sãomiguelenses.
Obrigada ao senhor Ivo Cerqueira e ao senhor Roque Mariano Ribeiro por nos conceder essa feliz oportunidade, como já disse no início, de esclarecer e unir para maior glória da cidade de São Miguel Arcanjo”.
“p/ Movimento Social Feminino”
a) Nina Ribas”


ESSES MENINOS


De início, eram 37 meninos contando de 9 a 13 anos, a maioria frequentando o Grupo Escolar.
O Movimento era reconhecido por toda a região. Aqui estiveram em visita para ver os trabalhos alguns assistentes sociais que inclusive tinham respaldo do próprio Consulado da Holanda no Brasil.


DESFILES


Desde a fundação do Clube do Engraxate, houve participação deles nos eventos da cidade, principalmente nos desfiles cívicos.
Com suas bandeiras, suas faixas, sua graça e orgulho.


FESTA PARA O PADRE


Um dos maiores fãs do trabalho exercido por dona Nina em São Miguel Arcanjo, sem sombra de dúvida, foi o padre Francisco Ribeiro. Ele era a alma que sempre a atendia quando necessitava de um ombro amigo ou de uma doação urgente.
Tanto que no início de sua fundação, e por intermédio dele, já a entidade chegou a merecer do Governo Federal uma importância de vulto, mas não pode receber devido a que não tinha ainda nem dois anos de vida como se exigia na época para fazer jus a essa ajuda.
Quando o Padre Francisco visitava a sede do Movimento, era para levar alguma contribuição, algum mimo para as abnegadas mulheres.
No dia 8 de dezembro de 1.967, foi Adelina quem então propôs festejar ao Padre Francisco Ribeiro pelo seu Jubileu sacerdotal.
O presente para ele foi uma batina acompanhada de um pergaminho com o nome de todas as associadas.
Ela fez campanha também para dar-lhe de presente uma televisão.
No dia 1º. de abril de 1.973, foi ela quem promoveu, através da entidade, uma grande quermesse destinada a angariar fundos para atender a algumas necessidades do padre.
O slogan da quermesse era: “DÊ UM POUCO DE CARINHO PARA QUEM JÁ DEU MUITO”.
Todo o povo, católico e não católico, acorreu.
Nesse dia, inaugurou-se o prédio da Cotesp e muita gente esteve na cidade. São Miguel completava 84 anos de vida independente tanto na ordem política como na administrativa.


UTILIDADE PÚBLICA MUNICIPAL


O Ofício de número 270/68 do dia 19 de julho de 1.968, assinado pelo Prefeito Cassiano Vieira, endereçado a Adelina Prandini Ribas assim dizia:
“Com o presente tenho a grata satisfação de passar às mãos de Va. Sa. cópia da Lei no. 429, de 24 de junho próximo passado que declara de UTILIDADE PÚBLICA a Associação Beneficente Movimento Social Feminino de São Miguel Arcanjo.
Prevaleço-me da oportunidade para apresentar a Va. Sa. os meus protestos de alta estima e consideração.
Respeitosamente,
Cassiano Vieira,
Prefeito Municipal”.


AGRADECIMENTO


No dia 15 de setembro de 1.968, Adelina homenageou o Prefeito Cassiano Vieira e sua esposa, mais o vereador Francisco Fogaça de Almeida, apelidado de Cirico, que fora autor do Projeto transformado em Lei, que considerava a sua Associação de Utilidade Pública.
No mesmo evento fizeram-se presentes os esposos de todas as associadas, as autoridades atuais e os candidatos que iriam postular um cargo nas próximas eleições.


UTILIDADE PÚBLICA ESTADUAL


Projeto de Lei 235, de 1.973 da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo declara de UTILIDADE PÚBLICA o Movimento Feminino de São Miguel Arcanjo.
Artigo 1º. – Fica declarado de utilidade pública o Movimento Social Feminino de São Miguel Arcanjo.
Artigo 2º. – Esta lei entrará em vigor na data da sua publicação.
Sala das Sessões, 1º. de agosto de 1.973.
a). José Feliciano Castellano.
A justificativa do deputado: - “Com um grupo de pessoas, destacando-se D. Adelina Ribas e suas companheiras de ideal, São Miguel Arcanjo possui o Movimento Social Feminino. Suas preocupações principais se concentram no Clube de Engraxates, em educação de base e outras atividades de promoção humana. Atualmente, o Movimento assiste a cerca de 30 menores, encaminhando-os na vida e oferecendo orientação aos mesmos. É um trabalho social dos mais úteis e importantes, atingindo a uma faixa etária que muito necessita de atenção da comunidade. Por essa razão, em sinal de aplauso às pessoas dedicadas à causa do menor que executam essa difícil missão, apresento este Projeto de Lei como incentivo e reconhecimento do Poder Legislativo. Concluo com o pensamento do poeta: “O despertar do homem não faz o sol nascer, mas é o sol que desperta os homens; o despertar dos homens não faz Deus chegar, mas é Deus chegando que faz o homem despertar”.


E NENHUM AUXÍLIO


Muito embora a entidade tivesse sido declarada de utilidade pública pelos dois governos, não recebeu verba em tempo algum. Dizem que isso aconteceu porque a entidade por ela fundada jamais atuou como um grande cabide de emprego, tal qual hoje em dia acontece.



BODAS DE OURO


Em 1.973, as amigas associadas fizeram festa para homenagear ao casal Fausto e Adelina pelas “Bodas de Ouro”. Só que foi o casal que deixou lembranças nesse dia, pois cada associada foi agraciada com um mimo. 


LIONS CLUB


Através da filha Edith, o Movimento recebeu do Lions Club de São Paulo, certa vez, uma peça de brim azul que serviu para que se confeccionassem os uniformes dos meninos engraxates.


A MORTE DO CONSORTE


Aconteceu no dia 28 de janeiro de 1.977 a morte de Fausto Ribas Essa perda contribuiu em muito para que a saúde de Adelina também vacilasse. No entanto, ainda teve fôlego para iniciar a campanha do Pró Nutre na cidade ligada à alimentação da criança pobre da idade de 1 ano e meio até 6 anos. Antes de essas crianças entrarem, porém, para o programa, era necessário passarem por uma consulta médica. Já nesse tempo, o Centro Comunitário, que hoje leva o seu nome, deixou de ser apenas utilizado para festas e reuniões, tornando-se uma espécie de “escola” comunitária. Ali começaram a ser passadas lições de cidadania e de vida, instruindo, educando e promovendo pessoas. Noções de higiene, de cuidados com os filhos, de preparação de alimentos, de cultivar-se uma horta doméstica, cuidados com os idosos, recuperação de alcoólatras, etc.


1.978


Um ano depois da morte do esposo, ela também disse adeus à cidade a quem tanto ajudou a desenvolver.
Sua última reunião aconteceu no dia 1º. de maio de 1.978.
Aos 11 de junho de 1.978, o Movimento ficava órfão da amiga, da meiga inspiradora, da alma e do coração fortes da grande Adelina.
A partir daí, as reuniões passaram a ser feitas alternadamente na casa de Francisca Fogaça Balboni, que assumiu a Presidência, no número 450 da Rua Narlir Miguel e na Escola Estadual “José Gomide de Castro”.
Já na primeira reunião, viram as associadas que jamais conseguiriam levar avante os projetos da amiga, isto é, com a mesma garra, com o mesmo brilho, com a mesma coragem, com a mesma disposição e com a mesma disponibilidade que ela possuía.
Dentre as hipóteses, decidiram convidar sua filha, Ebe Ribas, para Presidente de Honra do Movimento e do Clube do Engraxate, ela que colaborara incansavelmente com todas as lidas e campanhas da mãe.
Ebe aceitou, comovida.
A Diretoria pós Adelina ficava assim constituída:
Presidente: Francisca Áurea Fogaça; Vice: Geni Elias; Diretora: Rosa Kyoko Iwassaki; 1ª. Secretária: Lúcia Galvão Fogaça Domingues; 2ª. Secretária: Maria Pereira Daniel; 1ª. Tesoureira: Maria José Ebúrneo; 2ª. Tesoureira: Harima Miguel Daniel.
Conselho Consultivo: Cristina Terra Vieira e Ebe Ribas. Conselho Fiscal: Alexandrina Brisola da Silva, Maria Aparecida N. Araujo, Maria de Lourdes Fogaça Albach, Alzira Maria de Jesus Silva e Tereza Fogaça de Almeida.
Nesse mesmo ano, Ebe casou-se e foi embora, despedindo-se de São Miguel.
Os engraxates foram se dispersando. O golpe fora duro demais. As associadas não tinham tempo para cuidar das coisas, pois tinham lá seus afazeres domésticos e outras responsabilidades.
Em 1.980, decidiu-se que os uniformes de gala dos engraxates ficariam guardados na casa de Harima Miguel Daniel. O uniforme diário sob os cuidados das próprias mães.
Nesse ano, pessoas como o Sargento Sílvio Santos Vieira e Orlando Rosa ofereceram-se para auxiliar junto ao Clube, o maior dos amores de Adelina.
A última reunião das mulheres do Movimento Social Feminino deu-se no dia 09 de abril de 1.981 na residência de Francisca Áurea Fogaça Balboni. Presentes: Lúcia Fogaça, Hilda Merler, Geni Elias, Harima Daniel, Maria José Ebúrneo, Ilda Camargo Martins e Therezinha Miguel.


OUTROS PLANOS


Dos sonhos de Adelina, dois deles ela não conseguiu realizar, ficando apenas no papel:
1. Criação da bandinha dos Engraxates Mirins para fazer uma homenagem ao grande maestro João Ortiz de Camargo;
2. Criação da Guarda Mirim - ela desejava oficializar no Natal de 1.969, com a colaboração do Comandante do Destacamento, de todos os policiais e do Prefeito Alcidino França. Já para o ano de 1.970, a Guarda Mirim teria uma verba de 2 mil cruzeiros vindos da Prefeitura. Os pretendentes deveriam fazer um exame e serem julgados por professores primários e secundários. Os guardas mirins seriam treinados durante 60 dias. Antes, porém, Adelina decidiu fazer uma reunião entre autoridades, proprietários de automóveis e caminhões e o povo em geral, explanando sobre a fundação da Guarda Mirim em São Miguel Arcanjo. Ninguém foi a essa reunião.


PIONEIRISMO


Esse Movimento foi pioneiro em fazer Assistência Social com o seu Clube de Mães e do Engraxate Mirim em toda a região.
Municípios que levaram daqui a sua idéia: Leme, Sorocaba, Ferraz de Vasconcelos, Itapetininga, etc.
Mas o que é a idéia sem a presença da idealizadora?
Depois disso, parece que a vida morreu em São Miguel Arcanjo.


HONRAS AO MÉRITO


Em 25 de abril de 1.971, Narlir Miguel assim escreveu sobre Adelina no jornal “Folha de São Miguel Arcanjo”: - “Quando, com a graça divina, um ente nasce, Deus lhe marca os dias e os anos de vida assim como seu próprio destino ao percursar este mundo durante o tempo que nele permanecer vivo. Felizes são aqueles que tem por destino a prática da virtude: eles beneficiam a humanidade com cada palavra que pronunciam ou cada trabalho que realizam. É felicidade de uma terra possuir no seio de sua população uma ou mais pessoas dotadas de virtudes para trabalhar desinteressadamente em benefício de seus semelhantes necessitados. Aqui em São Miguel Arcanjo, por felicidade, o destino colocou em nossa sociedade uma respeitável senhora, cujo nome peço licença em declinar: Dona Nina (Adelina), organizadora dos Engraxates Mirins e Presidente da Legião Brasileira de Assistência, é uma senhora que preencheu uma lacuna que faltava nesta terra em matéria de organização de sociedades beneficentes em geral. Seu respeitável nome está ligado a todas as sociedades que diminuem o sofrimento do próximo.
Ela emprega sua maior parte do seu tempo em visitar os doentes nas míseras moradas, quase sempre acompanhada pelo seu respeitável esposo, Sr. Fausto, que a acompanha onde pretender viajar. Deus que prolongue a vida dessa senhora para continuação de seu trabalho no qual procura sempre ajudar todos os necessitados”.


UMA SECRETÁRIA EXEMPLAR


Atuou como Secretária, desde seus tempos de solteira, a senhora Lúcia Galvão Fogaça, depois Domingues, a quem estendemos nossas homenagens neste projeto. Lúcia jamais faltou a nenhuma reunião. Essas reuniões, quando aconteciam na casa de Adelina, prolongavam-se até altas horas. Conforme nos relatou Neuza Martins, na época sua auxiliar do lar, “Eu chegava até a dormir no sofá”.


OS ENGRAXATES, HOJE


De funcionários públicos a gerentes de agências bancárias, advogados e comerciantes, em São Miguel Arcanjo e em outros municípios brasileiros, esses os ex- engraxates de dona Nina, hoje. São chefes de família responsáveis. Que sempre terão na consciência o eterno agradecimento àquela mulher que era enérgica (para entrar no clube das caixas vermelhas o batismo de fogo era limpar e engraxar as botas imundas que o esposo dela trazia da Fazenda Atlântida), mas porque conhecia da vida e das dificuldades que todas as pessoas terão na luta pela existência.


HINO


Graças a Anorim Wakim Tannous, consequimos resgatar um trechinho do hino:
“SOMOS NÓS ENGRAXATES MIRINS
BEM CONTENTES VAMOS TRABALHAR.
TRABALHANDO COM TODO O ESMERO
PARA O NOSSO FREGUÊS AGRADAR”.


HOMENAGENS


Adelina Prandini Ribas foi homenageada logo após o seu falecimento.
A Lei 855, de 08 de julho de 1.978 deu seu nome ao Centro Comunitário da Rua Rui Barbosa, denominando-o de “Centro de Integração Comunitária do Município de São Miguel Arcanjo Adelina Prandini Ribas”.
A segunda homenagem lhe adveio em 1.997, quando seu nome foi dado ao Conjunto Habitacional de São Miguel Arcanjo, no acesso João Cereser, que se chamou: Conjunto Habitacional “Adelina Prandini Ribas” – a COHAB 4, determinado pela Lei 2.069, de 24 de junho de 1.997.


HOMENAGEM DO “CRUZEIRO DO SUL”


A sua falta foi enfatizada pelo jornal “Cruzeiro do Sul” em setembro de 1.984, quando noticiou que na cidade de São Miguel menores pedintes estão aumentando a cada dia e infernizando a vida dos comerciantes, por conseguinte, da população em geral quando se dirige a uma padaria ou bares do centro. São dezenas de guris, entre 8 e 10 anos atrás de migalhas. Segundo a maioria da população, isso só veio a ocorrer depois da morte de Adelina Prandini Ribas, que foi fundadora do Movimento Social Feminino. Essa entidade mantinha o Clube do Engraxate Mirim com a finalidade de orientar e encaminhar menores abandonados.
Entre os argumentos em defesa da cidade, conforme constou da “Nossa Opinião” no jornal “Folha de São Miguel Arcanjo” de 23 de setembro de 1.984, foi que “a população de São Miguel era bem menor e não havia tanto acampamento de madeireira com tantas famílias”.


- Este texto foi compilado por Luiza Válio e também faz parte do livreto "IRMÃOS NO AMOR", Editado pela Editora Trombetti, ano de 2.010.

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