Observe que tem um passarinho na minha árvore.
É marrom e parecido com o joão-de-barro, mas não é.
Meus antepassados diziam que ele se chamava chico lorê.
Quando ele cantava, a chuva vinha; nem no Wiki Aves ele aparece...
E porque me lembrei desse passarinho, vou relembrar a história da Nhá Chica e do Nhô Romão, um casal que residiu nas terras do meu pai quando eu ainda era criança.
Para chegarmos a esse pedacinho de chão, eu e minhas quatro irmãs usávamos sempre um longo atalho.
Ali havia um monjolo e um jardim cheio de flores, principalmente de dálias coloridas; ficava quase pegado à cerca que dividia as terras de meu pai com as de um homem que plantava remédios por aqui.
Lá vem a história:
NHÁ CHICA E NHÔ ROMÃO.
Esta é uma história real que meu saudoso pai nos contava e a qual passarei aqui de acordo com o que entendi.
Conheci o casal.
Residia numa casa de pau a pique num lugarzinho até bem bonitinho no Sítio Bom Retiro, de propriedade dos Válio.
Nhá Chica que cuidava do imenso jardim cheio de multicoloridas dálias e rosas perfumadas; ao lado da casinha, um monjolo construído por meu pai, o qual socava dia e noite.
Uma beleza de monjolo!
O casal?
Mulher santa, a Nhá Chica.
Santa nada!
Não existe santa!
Acho que só no altar.
É porque aí ela não tem jeito de dobrar as canelas...
A dor do reumatismo fez Nhô Romão passar uma canecada de álcool na perna e depois esquentar o espírito de vinho com um tição de fogo.
Malvado tição!
Labaredar-se numa hora dessas...
Putz...
Acendeu tudo na perna do Nhô Romão! Cruz credo! Que coisa bárbara! Vai encoscorar as canelas do coitado.
Tição desgranhento! Até um pedaço da ala esquerda das calças foi comido pelas labaredas.
Nhô Romão pôs-se de cama com o pernão assado, pendurado por uma porção de dias.
Nhá Chica aproveitou-se.
É óbvio que tudo deu certo para isso.
Apareceu, uns dias após o acidente, à porta de sua casa, um indivíduo de nome Aparício, morador de um bairro conhecido.
Aparício pediu um copo de água, perguntando logo pelo Nhô Romão.
Nhá Chica deu-lhe a água e contou tudo o que acontecera.
E então ele entra, senta-se à cozinha.
Ela serve um café, reclamando da solidão.
Está carente, a coitadinha!
Ele, marreco velho, mostra-se condoído. e por ali fica. Traz a ela um pouco de lenha.
A tarde vai tombando sobre os velhos laranjais.
No espigão da invernada, uma perdiz dá o toque de beleza no crepúsculo prestes a transpor o limiar da portinhola da casa do joão- de- barro.
Parece que vai cair um temporal.
Pia um chico lorê.
Esta é uma história real que meu saudoso pai nos contava e a qual passarei aqui de acordo com o que entendi.
Conheci o casal.
Residia numa casa de pau a pique num lugarzinho até bem bonitinho no Sítio Bom Retiro, de propriedade dos Válio.
Nhá Chica que cuidava do imenso jardim cheio de multicoloridas dálias e rosas perfumadas; ao lado da casinha, um monjolo construído por meu pai, o qual socava dia e noite.
Uma beleza de monjolo!
O casal?
Mulher santa, a Nhá Chica.
Santa nada!
Não existe santa!
Acho que só no altar.
É porque aí ela não tem jeito de dobrar as canelas...
A dor do reumatismo fez Nhô Romão passar uma canecada de álcool na perna e depois esquentar o espírito de vinho com um tição de fogo.
Malvado tição!
Labaredar-se numa hora dessas...
Putz...
Acendeu tudo na perna do Nhô Romão! Cruz credo! Que coisa bárbara! Vai encoscorar as canelas do coitado.
Tição desgranhento! Até um pedaço da ala esquerda das calças foi comido pelas labaredas.
Nhô Romão pôs-se de cama com o pernão assado, pendurado por uma porção de dias.
Nhá Chica aproveitou-se.
É óbvio que tudo deu certo para isso.
Apareceu, uns dias após o acidente, à porta de sua casa, um indivíduo de nome Aparício, morador de um bairro conhecido.
Aparício pediu um copo de água, perguntando logo pelo Nhô Romão.
Nhá Chica deu-lhe a água e contou tudo o que acontecera.
E então ele entra, senta-se à cozinha.
Ela serve um café, reclamando da solidão.
Está carente, a coitadinha!
Ele, marreco velho, mostra-se condoído. e por ali fica. Traz a ela um pouco de lenha.
A tarde vai tombando sobre os velhos laranjais.
No espigão da invernada, uma perdiz dá o toque de beleza no crepúsculo prestes a transpor o limiar da portinhola da casa do joão- de- barro.
Parece que vai cair um temporal.
Pia um chico lorê.
Êta pássaro para adivinhar chuva!!!...
As nuvens começam a se juntar no céu e este vai engrossando, engrossando, até escurecer.
A noite e a chuva aos poucos vão banhando o chão esturricado do morro.
Nhá Chica convida Aparício para um pouso.
Ele aceita.
Ela quebra uns ovos, principia a batida, vai espumando as claras, suspira-se.
Daí, as gemas, a cebolinha, uma pitada de sal...
A mãozinha da Nhá Chica não cansa. Umas rodelas de cebola.
Nhô Romão pergunta lá do quarto:
- "Quem tá aí, Chiquinha?"
- " É o Aparício Jacu..".
- "Ah... Já tá pronta a janta?"
- "Farta só mexê o virado."
Nhá Chica era caprichosa para preparar um virado. Só o fazia depois que o feijão fosse lavado e escorrido todo o caldo. Ficava parecendo grão de amendoim torrado. Aí, então, ela despejava na gordura alhoada e acebolada.
A primeira pratada foi pro Nhô Romão.
- "Mecê tire, Aparício".
- Vô comê só um pouquinho".
Caboclo sabido!
Fazia bem uns dois dias que não sabia o que era comer uma comida boa como aquela.
Só bebendo pinga e comendo sanduíche de mortadela, e, isso, quando achava pão na venda.
A pança cheia de virado e ovo batido, depois um canecão de água completando a refeição. Uma caneca de café requentado e um ar de quem queria ir embora, porque terminava o dia para o andejante.
- "Não, mecê fique posando aqui"...
- "Pois eu vô aceitá, dona Chica..."
Foi ao quarto do Nhô Romão, bateu um papo e espreguiçou-se. Era a manifestação de quem queria dormir.
Nhá Chica já fazia o leito para o Aparício em cima de uma cama de paus roliços trançados com cipó.
O colchão de palha de milho barulhava sob as mãos da hospedeira que o amaciava.
Morto de canseira e barriga cheia, não demorou o Aparício pegar no sono.
Mas no outro quarto, Nhá Chica não conseguia dormir. Olhava a cara do velho reumático, roncando que nem porco fazendo a sesta...
- " Que nada! Vou pra lá"...
E foi mesmo.
Cutucou o Aparício. Este, acordou sobressaltado. Não era pra menos.
- "Dá um lugarzinho aí..."
Só faltava isso!
Era a paga.
Até Nhô Romão ficar bom, o Aparício e a Nhá Chica iam se divertir um bocado!
"Muié", como dizia o Pedro Argola que meu pai conhecera," é iguar porca no chiqueiro. Namora até pros vão da cerca. Eta bicho!"
E falando assim, dava uma baita gargalhada deixando mostrar até o fim da goela.
" Pra conservá ela agarrada, a gente tem que arrancá um fio de cabelo do bigode e esfregá treis veis em cada sovaco dela".
- "Mais... e quem não tem bigode, Pedro Argola?"
-" Ah, ah, ah..."
E Pedro Argola dava outra gargalhada de mostrar quase até as tripas.
- a ser publicado junto com minhas outras memórias de infância.
As nuvens começam a se juntar no céu e este vai engrossando, engrossando, até escurecer.
A noite e a chuva aos poucos vão banhando o chão esturricado do morro.
Nhá Chica convida Aparício para um pouso.
Ele aceita.
Ela quebra uns ovos, principia a batida, vai espumando as claras, suspira-se.
Daí, as gemas, a cebolinha, uma pitada de sal...
A mãozinha da Nhá Chica não cansa. Umas rodelas de cebola.
Nhô Romão pergunta lá do quarto:
- "Quem tá aí, Chiquinha?"
- " É o Aparício Jacu..".
- "Ah... Já tá pronta a janta?"
- "Farta só mexê o virado."
Nhá Chica era caprichosa para preparar um virado. Só o fazia depois que o feijão fosse lavado e escorrido todo o caldo. Ficava parecendo grão de amendoim torrado. Aí, então, ela despejava na gordura alhoada e acebolada.
A primeira pratada foi pro Nhô Romão.
- "Mecê tire, Aparício".
- Vô comê só um pouquinho".
Caboclo sabido!
Fazia bem uns dois dias que não sabia o que era comer uma comida boa como aquela.
Só bebendo pinga e comendo sanduíche de mortadela, e, isso, quando achava pão na venda.
A pança cheia de virado e ovo batido, depois um canecão de água completando a refeição. Uma caneca de café requentado e um ar de quem queria ir embora, porque terminava o dia para o andejante.
- "Não, mecê fique posando aqui"...
- "Pois eu vô aceitá, dona Chica..."
Foi ao quarto do Nhô Romão, bateu um papo e espreguiçou-se. Era a manifestação de quem queria dormir.
Nhá Chica já fazia o leito para o Aparício em cima de uma cama de paus roliços trançados com cipó.
O colchão de palha de milho barulhava sob as mãos da hospedeira que o amaciava.
Morto de canseira e barriga cheia, não demorou o Aparício pegar no sono.
Mas no outro quarto, Nhá Chica não conseguia dormir. Olhava a cara do velho reumático, roncando que nem porco fazendo a sesta...
- " Que nada! Vou pra lá"...
E foi mesmo.
Cutucou o Aparício. Este, acordou sobressaltado. Não era pra menos.
- "Dá um lugarzinho aí..."
Só faltava isso!
Era a paga.
Até Nhô Romão ficar bom, o Aparício e a Nhá Chica iam se divertir um bocado!
"Muié", como dizia o Pedro Argola que meu pai conhecera," é iguar porca no chiqueiro. Namora até pros vão da cerca. Eta bicho!"
E falando assim, dava uma baita gargalhada deixando mostrar até o fim da goela.
" Pra conservá ela agarrada, a gente tem que arrancá um fio de cabelo do bigode e esfregá treis veis em cada sovaco dela".
- "Mais... e quem não tem bigode, Pedro Argola?"
-" Ah, ah, ah..."
E Pedro Argola dava outra gargalhada de mostrar quase até as tripas.
- a ser publicado junto com minhas outras memórias de infância.
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