terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

MEU BERÇO



Terra de slogans fantasiosos,
de esperanças futuras,
as mesmas por mim nutridas no passado;
de espiões nas janelas,
de sádicos e altruistas,
de horas marcadas para as novelinhas,
de domingos barulhentos,
de poetas, seresteiros,
de pedintes e pedantes
e de crianças também.
Uma cidade qualquer,
pequena como muitas,
palco dos primeiros galgares da escada,
das quimeras,
das primeiras explosões para a vida,
que o peito se confrange e se delicia
ao relembrar...

São Miguel Arcanjo,
meu berço...

O progresso do mundo assola as grandes metrópoles,
a poluição toma conta de todas as paisagens,
as florestas tombam para dar lugar
a novas experiências;
as mentes se corroem no contínuo marulhar dos sentidos,
a luta pelo poder torna o homem perigoso,
assassina-lhe a alma,
e,
através de vilipêndios,
o ser humano caminha para a suprema solidão,
a solidão sem amigos...

E é a cada visão universal que agradeço
ter sob os pés um solo frágil,
mas seguro,
e levar um ideal comum, mas não sórdido.
E se acaso um dia eu parta
na esperança de busca material,
me engrandeça até para exaltar seu nome,
ou,
perdida nos portos da vida para encontrar
meu caminho,
quero ter certeza de rever,
como deixei ao aventurar-me,
o mesmo berço no qual há de repousar eternamente minha matéria final,
São Miguel Arcanjo dos meus avós.

(Luiza Válio)


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